Cai, levanta e recomeça!
“Também eu não te condeno. Vai
e de agora em diante não tornes a pecar.” (Jo 8,11)
Chegado o mês de setembro, é momento de recomeçar o trabalho, as aulas e as rotinas. Recomeçar nem sempre é fácil e nem sempre está ligado aos nossos hábitos profissionais ou académicos. Recomeçar pode ser um momento de encontro contigo. Um momento depois do qual nunca voltaremos a ser iguais.
Recomeçar faz-me pensar no episódio da mulher adúltera. Nele a tua ternura e misericórdia saltam da página. Consola-me compreender que mulheres imperfeitas (e homens também, claro está), como eu tenham em ti motivo para se reerguer.
Sei do que falo porque foi num momento de grande vulnerabilidade, que comecei a sentir uma presença na minha vida, um ardor no peito, uma vontade de romper com o olhar que me colocava no centro, aquele olhar orgulhoso de quem pensa que tudo depende apenas de si. Senti-me tão amada nesse momento de tribulação, não porque não o fosse antes, mas por um amor que me transcendia. Uma presença apaziguadora e ao mesmo tempo provocadora que me ensinou que viver fechada no meu umbigo era morrer sem ter tido oportunidade de viver. Percebi, então que ser uma gota de água num oceano imenso basta porque o oceano não o seria sem todas as suas gotas. O que achava grande e importante afinal é pequeno, insignificante enganador e efémero.
Senti-me como a ovelha perdida e encontrada, arrebatada e deslumbrada por ti e a minha vida transformou-se num ‘sim’ consentido e com sentido. O vazio que carreguei em silêncio durante tanto tempo foi-se enchendo de ti, do teu amor e da tua paz. Tudo porque olhaste para a minha pequenez com misericórdia e compaixão.
Finalmente, compreendi a tua paixão, todos os passos que te conduziram à cruz. Sabias que tudo o que padecerias seria sinal daquele que te enviou. Tamanho amor não podia ser apenas humano, mas transcendente. Na cruz de escória e do escândalo onde foste insultado, maltratado e humilhado, ergueu-se a cruz da nossa salvação. A possibilidade de a humanidade redimida poder tocar o divino enquanto ainda está aqui.
Vejo o episódio da mulher adúltera como essa conversão interior que só acontece quando nos encontramos contigo. Ensinaste àqueles homens dispostos a apedrejar uma mulher por adultério (como se o adultério dependesse apenas dela), que somos todos pecadores. Aceitar isso é não viver iludido, mas sim saber que a cada queda vens ao nosso encontro e estendes a tua mão misericordiosa para nos reerguer pela tua graça.
Mas sabes o que me captou a atenção desta vez? Ver-te escrevendo no chão e não conseguir decifrar o que escrevias. A maneira sempre discreta como sempre atuas na nossa vida. Convidas-nos a discernir o que escreveste no chão da nossa vida. Tu, o único que poderia estilhaçar os nossos telhados de vidro, nem sequer te passa pela cabeça pegar numa pedra, mas antes escreves no chão tempo suficiente para reconhecermos a encruzilhada onde nos desviámos do teu caminho.
Que Palavra terás hoje para mim? O que ainda sonhas para mim, apesar de me perdido tantas vezes no caminho? Tenho a certeza de que já me respondeste várias vezes, mas tenho tanta dificuldade em ouvir... Por isso, peço-te o mesmo que te pediu o leproso: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me" (Mt, 8, 2).