Agarrar a vida com as próprias mãos

Crónicas 29 novembro 2022  •  Tempo de Leitura: 3

Começa o Advento e o Evangelho fala da necessidade de esperar, de ficar acordado. Mas a que vigília é esta para o cristão?

 

Não se refere ao Natal que está para chegar, mas espera é das últimas coisas, o fim do mundo... É sobre estas últimas coisas que o Evangelho tece o tema da vigília, da espera. As duas coisas estão relacionadas: as últimas coisas e o Natal. Ou seja: Deus pôs o pé na nossa história e mudou o seu sentido, porque se fez um de nós. Todos os eventos que têm a ver com o nascimento mudam de sentido porque Ele também nasceu, mas o fim de tudo também faz sentido porque ambos nos pedem para vigiar, para esperar.

 

Que sentido tem a espera para o homem de hoje?

 

Sem pensar na pressa com que vivemos, vivemos de uma forma em que o bem e o mal se misturam, muitas vezes se igualam. Pessoas que fazem o bem e não são compreendidas; pessoas que praticam o mal, triunfam e vencem. De modo que muitas vezes encontramo-nos numa situação de difícil discernimento sobre o que é o bem e o que é o mal. E nesta dificuldade torna-se difícil esperar…

 

Porém, o cristão é convidado a saber esperar como homem de fé que sabe que a história tem um sentido! É verdade que tudo acabará, mas terminará com o encontro com o Senhor que há de voltar. E este é o significado belo da história. O cristão tem o dever de anunciar esta feliz notícia: esperamos o encontro final e não o medo do fim. O encontro com o Senhor que, tendo dado sentido ao nascer, dá sentido ao fim de tudo.

 

Portanto, não sejamos como aqueles no tempo de Noé: "Nos dia que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca; e não deram por nada, até que veio o dilúvio, que a todos levou". (cf. Mt 24, 38-39)

 

Não é que estes fossem piores do que nós. Não! Simplesmente viviam uma vida sem grandes propósitos, sem grandes opções, sem grandes planos. Não agarravam a vida com as próprias mãos. Viviam descendo no plano inclinado da vida ao ponto de se deixarem submergir por toda a água daquele dilúvio simbólico. Vidas naufragadas… Jesus propõe-nos uma atitude diferente. Estar de vigília. Estar à espera de Alguém que vem. Estar preparados para esse encontro.

 

Que este nosso Advento seja vivido nesta atitude vigilante. Não percamos tanto tempo com luzes, árvores, enfeites, prendas, sonhos e rabanadas, bolos-rei e pão-de-ló… Não nos percamos com as coisas supérfluas que devem ajudar a esperar, mas que não são, esse encontro feliz com o Senhor.

 

Bom Advento.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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