«Cantigas de escárnio e maldizer»

Crónicas 11 janeiro 2022  •  Tempo de Leitura: 4

A atração pela maledicência é-nos enorme. Sentimo-nos facilmente seduzidos por dar destaque ao que nos parece mal e a partir daí explodimos com tudo o que, de facto, nos dói no interior. Há quem diga que andamos mal connosco. Somos naturalmente invejosos. Queremos ver todos pior do que nós…

 

Na passada quarta-feira, prosseguindo com as suas catequeses sobre São José, o Papa Francisco abordou a questão da adoção.  São José, como pai putativo (Que é reputado ser o que não é Supositício, Suposto - segundo o dicionário Priberam): “Ele mostra-nos que esse tipo de vínculo não é secundário, não é um retrocesso. Esse tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade”. É o olhar de Francisco para as crianças que, no mundo, esperam por alguém que cuide delas e para os esposos que desejam ser pais e mães, mas não conseguem por razões biológicas. Ou ainda, para aqueles casais que já têm filhos naturais, mas querem partilhar o afeto familiar com aqueles que dele foram privados. Assim, o Pontífice reiterou que “não devemos ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o 'risco' da acolhimento”.

 

O Papa destacou ainda que a orfandade hodierna é um pouco a consequência de um certo egoísmo das nossas famílias. E de uma forma improvisada acrescentou que, hoje fala-se muito sobre o inverno demográfico que a sociedade ocidental atravessa, no entanto, vemos  muitos casais a não quererem ter filhos porque não querem ou querem apenas um. Mas, e ao mesmo tempo, optam por terem cães e gatos, que substituem as crianças. "Essa negação da paternidade e da maternidade tolhe-nos a humanidade. E assim a civilização fica mais velha e sem humanidade, porque se perde a riqueza da paternidade e da maternidade, e (consequentemente) sofre a pátria que não tem filhos”.

 

E o que é que sobressaiu desta comunicação?

 

Que o Papa está contra quem tem cães e gatos…

 

Foi capa de jornais e artigos de opinião espalhados aos sete ventos nas redes sociais…

 

Francisco queria salientar que São José ensina-nos que ser pai é um chamamento de origem divina, ao qual é necessário responder com consciência, para vivê-lo com sentido de responsabilidade, paixão e dedicação. São José não hesita em dedicar-se inteiramente à missão recebida de Deus. Não coloca qualquer limitação de tempo ou de índole pessoal, mostrando-nos que não se é pai em compartimentos ou horários, e que o filho não é um impedimento para a sua realização enquanto homem. Tornar-se pai não é simplesmente um ato biológico, atribuído apenas à dimensão humana, mas tem a sua génese em Deus, o verdadeiro e único Pai, com quem todo pai é chamado a confrontar-se.

 

Por isso é que a adoção é tão importante como a paternidade ou maternidade biológicas. Ser pai ou mãe é uma vocação divina. Está acima da realidade puramente humana.

 

Porém, a nossa maledicência fica-se pelo cão e pelo gato. Miséria humana.

 

Ingratidão quando esquecemos que é o mesmo Papa que apela ao cuidado com a Criação. Que apela à responsabilidade que o ser humano tem que ter com a natureza; com o mundo a si confiado, pelo mesmo Deus que é modelo de paternidade…

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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