Dar, oferecer e entregar

Crónicas 2 agosto 2021  •  Tempo de Leitura: 3

Na língua portuguesa, encontramos várias palavras que têm significados semelhantes ou, até mesmo, iguais. A forma como as utilizámos, é que realça o seu verdadeiro significado.

 

Nós podemos dar, sem entregar. Ou podemos oferecer sem dar. Mas se formos ao dicionário todas estão interligadas. E isto faz pensar que, muitas vezes, os nossos gestos não refletem aquilo que dizemos, ou seja, não sabemos usar as palavras certas junto com os gestos certos. Ou então, fazemos ou dizemos as coisas, com uma intenção e os outros interpretam-nas doutra forma.

 

Com Jesus sucedia isto, algumas vezes. Temos o exemplo da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus queria com este gesto ensinar, àquele povo, a importância da partilha, do amor e do serviço ao outro. Mas aquela gente não entendeu nada e pensou que, se se aliassem a Jesus, não tinham de se preocupar com o alimento, porque Jesus oferecia, gratuitamente, pão em abundância. Não entenderam, nem aderiram à mensagem de Jesus, apenas viam nele um modo fácil de saciar a sua fome material. Por isso mesmo, Jesus teve necessidade de lhes explicar que o Pão verdadeiro, aquele que realmente eles necessitavam, era Ele mesmo. Segui-lo, aderir a Ele e viver segundo a Sua lei, que é o amor, era a melhor forma de se alimentarem.

 

Ao longo da jornada das missões, vemos muita gente que vê em nós, voluntários, uma forma gratuita de ter coisas. Em alguns momentos da missão apercebi-me que as pessoas, mesmo necessitadas, precisam de ser educadas para a partilha e para a retribuição. Aprendi, com um grande padre missionário, que não devemos dar só porque sim. Os outros têm de fazer para o merecer e ter algo para dar em troca.

 

Todos temos alguma coisa para dar, nem que seja uma hora do nosso dia para ajudar nalguma tarefa. É uma forma de preparar as pessoas para o futuro. 

 

Numa das atividades, em Moçambique, um fim de semana só com jovens, para participarem eles tinham de pagar um valor simbólico, para ajudar nas despesas. Todos queriam participar, mas nem todos tinham dinheiro. Então, para que nenhum ficasse de fora, foi sugerido, durante a semana, irem trabalhar umas horas na machamba (campo) da missão, em troca da estadia e das refeições do fim de semana. As inscrições aumentaram e nenhum falhou ao compromisso. Na hora e no dia combinado, lá apareciam eles para trabalharem e assim garantirem o seu lugar.

 

É na partilha que nós aprendemos a valorizar as coisas! Nada nos é dado, temos de fazer por o merecer! Jesus o Pão do Céu é o alimento vivo, é o Caminho para o Amor! Deixemo-nos enamorar por Ele!

tags: Ana marujo

Nasci em 1982, a 4ª filha de 6 irmãos. Natural de Sobrado, Valongo. Sou escriturária de profissão.

Somos uma família católica e, os meus pais, sempre nos guiaram no caminho de seguir Jesus, frequentando a catequese e a Eucaristia.

Desde cedo quis ser catequista e quando terminei o percurso catequético, fui catequista. Hoje ainda sou, para além de participar noutros grupos paroquiais.

Sempre tive vontade de partir em missão, muitas vezes o medo ou a insegurança, fizeram me recuar. Não sou pessoa de ter coragem, de dar o primeiro passo. Mas, sempre que via reportagens ou artigos sobre pessoas que partiam em missão, o meu coração “contorcia-se”. Eu sabia que tinha que ir. Em 2017 surgiu a oportunidade de embarcar numa missão para o Uganda e depois em 2018 para Moçambique.

Nestas experiências percebi e aprendi, que sou mais feliz quando faço os outros felizes. Que com pouco posso fazer muito. Não existem barreiras que nos dividam com ninguém.

Ali aprendi quem é o meu próximo! Se o podia ter descoberto aqui na minha paróquia? Claro que sim. Mas estas missões servem para sairmos de nós mesmos e sentirmos a necessidade de ir ao encontro do outro. Num contexto social diferente os nossos olhos “transformam-se” e aprendemos a ver doutra forma.

Posso dizer que fui muito feliz!

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