Do «Presente Infinito» ao «Futuro de Esperança»

Crónicas 12 janeiro 2021  •  Tempo de Leitura: 4

Por natureza, e como qualquer pessoa, gosto de perceber o mundo e as suas vivências. Como para muitos de vós, a pandemia e a reação das pessoas a esta, é um dos focos da minha atenção nos últimos meses. Esta semana, a expressão que li e mais me fez refletir foi esta que faz a primeira metade do título desta crónica: Presente infinito.

 

A pandemia prendeu-nos a um "presente infinito" e talvez seja por isso que muitos de nós nos descobrimos como frágeis, vulneráveis ​​e inseguros. Com os últimos dados sobre os contágios e as mortes, parece-nos que tudo isto não tem um fim, pelo contrário, tende a agravar-se.

 

É verdade que vivemos um tempo complexo e confuso, mas não devemos perder a esperança! Percebo nos jovens que diariamente tenho pela frente nas aulas; sinto nos familiares com quem estive nas festas natalícias; ouço dos idosos que acompanho uma extrema necessidade de consolação, de encontrar alguém que os conforte, os ajude nas dificuldades e os apoie como presença amiga e fiel. Todos nós precisamos de ser acolhidos e de acolher. 

 

Este tempo também está a consciencializar-nos para algo mais profundo e que lutamos ora para reconhecer e nomear, ora para fugir e esquecer: o vazio existencial que nos habita, a precariedade dos valores que nos movem e que não motivam nem dão esperança.

 

Este presente infinito está a mostrar-nos que fomos alimentando-nos de tanta exterioridade e de tanto vazio. E quando estes não nos salvam; quando as promessas destes reis e destes reinos desabam e revelam toda a sua inconsistência; quando o sofrimento nos surpreende inesperadamente e traz à tona toda a nossa fragilidade e a nossa vulnerabilidade, surge o medo.

 

Em si mesmo, o medo é uma emoção positiva que sinaliza a iminência de um perigo para que assim possamos fazer algo para evitá-lo. Em muitas circunstâncias, é fisiológico e não uma falta de fé. No entanto, quando isso te impede de confiar a tua vida a Deus, que cuida de cada um mesmo numa situação que parece contradizer a sua proximidade, pode tornar-se numa falta de fé ou numa fé vacilante, também humana. Nestes momentos é necessário invocar com maior insistência a presença de Deus ao nosso lado, para que nos dê a graça de continuar a confiar nele. É Ele que alimenta a verdadeira esperança!

 

Foi o que li nas palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo: «É impressionante que o Senhor tenha passado a maior parte do tempo na Terra assim, vivendo o dia a dia, sem aparecer (…) Segundo os Evangelhos, foram três anos de sermões, milagres e muitas coisas. Três. E os outros, todos os outros, têm uma vida escondida na família. (…) No primeiro dia do seu ministério - o batismo no Jordão - Jesus oferece-nos assim o seu manifesto programático. Diz-nos que não nos salva do alto, com uma decisão soberana ou com um ato de força, um decreto. Não. Ele salva-nos vindo ao nosso encontro e levando sobre si os nossos pecados. (…) É válido também para nós: em cada gesto de serviço, em cada obra de misericórdia que fazemos, Deus manifesta-se, Deus olha para o mundo. A salvação é gratuita. É um gesto gratuito da misericórdia de Deus para connosco».

 

Quando nos aproximamos do outro, quando nos consolamos mutuamente, transformamos este presente infinito, num futuro de esperança.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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