Sair em missão

Crónicas 12 outubro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Muitas vezes ouvi a expressão da missa à missão. Durante anos me perguntei o que realmente significava esta expressão.  Entendi que devemos sair da missa, com alguma missão a cumprir cá fora.

 

Percebi que, pelo batismo, somos chamados à missão. E ser missionário não é apenas sair do nosso país e partir. Podemos ser missionários onde, quando e como quisermos. Todos os dias temos a missão de ver no outro um irmão. E um verdadeiro irmão ama sem condições, sem limites.

 

Quando com um simples gesto, coloco um sorriso nos lábios do outro, é uma sensação única de dever cumprido. Felizmente tive oportunidade de o fazer em diversas situações e em contextos distintos.

 

Esperei alguns anos até conseguir sair “realmente” em missão. Através dos missionários da Consolata, aprendi e conheci o verdadeiro sentido da palavra “missão”. Em 2017 embarquei, para aquela que seria, a minha primeira missão em África. Era uma missão desafiante num país que pouco ou nada conhecia, o Uganda. O projeto seria a reconstrução de um orfanato que acolhia crianças deficientes. Em África a deficiência é vista quase como “um castigo” de Deus e muitas crianças são abandonadas, ou mesmo mortas, pelas famílias. Eramos um grupo de 13 voluntários mais um padre da Consolata. Tivemos vários encontros de formação para nos prepararmos. Mas por mais que nos preparemos nunca estamos verdadeiramente preparados.

 

Cada voluntário vive a missão de forma diferente, não acolhemos todos da mesma forma. Cada dia é um desafio novo e cada um o encara com o modo de ser. Para mim essa missão foi o viver de um sonho, não sei se por ser a primeira mas eu sentia me em casa. Foi uma experiência de um mês, que me soube a pouco! Aquelas crianças tinham uma força de viver que nos encorajava e por isso conseguimos realizar o nosso projeto no seu pleno.

 

Durante esta primeira missão, concluí que ser missionário é ser feliz! Só quando damos é que recebemos, e eu recebi muito! Senti a necessidade de a cada dia me dar mais, de crescer mais, de ser mais e de viver mais. Como podia eu pedir mais quando tinha tudo? Consegui ver Deus em muitas pessoas com quem me cruzei, esta é a minha e nossa missão, ver Deus no outro. E eu vi, em cada encontro, em cada sorriso, em cada abraço lá estava Deus.

 

Deus muitas vezes tem de se fazer pequeno para ser visto. Porque temos nós a ideia (errada) que temos de ser maiores que os outros? Maiores só se for no amor. Ninguém nos ama mais do que Ele, por isso nos enviou o seu Filho. Seguir o caminho de Jesus é seguir a via do Amor, do verdadeiro Amor.

 

Nesta minha primeira missão, amei e fui amada. E é uma sensação incrível! Por isso mesmo, em cada dia tento amar mais e julgar menos.

 

Sair em missão é amar sem limites!

Uganda_5

Nasci em 1982, a 4ª filha de 6 irmãos. Natural de Sobrado, Valongo. Sou escriturária de profissão.

Somos uma família católica e, os meus pais, sempre nos guiaram no caminho de seguir Jesus, frequentando a catequese e a Eucaristia.

Desde cedo quis ser catequista e quando terminei o percurso catequético, fui catequista. Hoje ainda sou, para além de participar noutros grupos paroquiais.

Sempre tive vontade de partir em missão, muitas vezes o medo ou a insegurança, fizeram me recuar. Não sou pessoa de ter coragem, de dar o primeiro passo. Mas, sempre que via reportagens ou artigos sobre pessoas que partiam em missão, o meu coração “contorcia-se”. Eu sabia que tinha que ir. Em 2017 surgiu a oportunidade de embarcar numa missão para o Uganda e depois em 2018 para Moçambique.

Nestas experiências percebi e aprendi, que sou mais feliz quando faço os outros felizes. Que com pouco posso fazer muito. Não existem barreiras que nos dividam com ninguém.

Ali aprendi quem é o meu próximo! Se o podia ter descoberto aqui na minha paróquia? Claro que sim. Mas estas missões servem para sairmos de nós mesmos e sentirmos a necessidade de ir ao encontro do outro. Num contexto social diferente os nossos olhos “transformam-se” e aprendemos a ver doutra forma.

Posso dizer que fui muito feliz!

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