Um

Crónicas 7 maio 2020  •  Tempo de Leitura: 2

É mais do estar juntos ou ligados.
É mais do que empatia ou sintonia.
É tudo isso e muito mais.

Sermos um é diferente de sermos o mesmo. Só podemos fazer a experiência de uma unidade plena se formos diferentes. Aos olhos da unidade, a diferença é uma riqueza quando partilhada. Se te sentes diferente, dá-te a ti mesmo, e farás o outro diferente, mais completo pela unidade realizada por acolher-te em si.

Sob o olhar daqueles que se sentem um entre si, a divisão é estranha e sem sentido. Qualquer contradição é motivo de aproximação e procura incessante daquele ponto que sabemos existir para nos fazer experimentar a unidade. 

Ninguém fica indiferente à experiência de nos sentimos verdadeiramente unidos. E qual a razão? Transformação. Algo muda em nós quando alguém nos leva a sentir sermos a única pessoa do mundo, reconhecendo, também, que somos uma pessoa única.

Curioso como a autêntica experiência de sermos um evidencia a unicidade de cada pessoa na sua individualidade, palavra que tem origem em indivisibilidade. Ou seja, se cada um de nós é uma unidade indivisa, mais profunda ainda se torna a experiência de unidade quando vivida como os outros.

O percurso para nos tornarmos em um-só é mais simples do que pensamos. Por vezes começa com um simples sorriso. Lembro-me da vez que vi o olhar cansado da pessoa que passava as compras no supermercado e resolvi sorrir, juntamente com uma palavra acolhedora, esforçando-me por a pronunciar com o tom mais afável que conseguia. Quando me despedi, retribuiu-me com o seu sorriso. Éramos um!

Lembro-me também daquela vez em que estava com imensos jovens na Catedral de Chartres a cantarmos juntos - Canta aleluia ao Senhor... - suavemente via as lágrimas a correrem pela cara de um amigo. Mais tarde ouvi a sua história dura, repleta de momentos de sofrimento e, depois, a redenção que experimentou com aquele simples cântico. Chorei com ele. Éramos um.

Por fim, lembro-me das vezes em que procurava adormecer os meus filhos quando eram ainda bebés. O calor dos meus braços fazia-os experimentar a serenidade e, com essa, a paz do regaço de amor do pai. Pensei em Deus e percebi. Nascemos para sermos um.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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