Hábito

Crónicas 9 abril 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Começamos a sentir o tempo a mais como um peso. Quando pensávamos que teríamos uma oportunidade de fazer as coisas para as quais não havia tempo, vemo-nos confrontados com o peso de nos libertarmos de uma epidemia, aprisionando-nos em casa. Queremos respirar liberdade e encontrei a forma de o fazer através de um hábito.

 

Há hábitos que tínhamos e agora não podemos ter, como todos os associados às saídas de casa. Mas há um hábito que beneficia a nossa mente e nos faz crescer em pensamento. 

 

Ler.

 

Há quem diga não gostar de ler. Há quem diga que não gosta de pensar. Mas ler e pensar não é uma questão de gosto, mas de um esforço mental para o qual não estávamos biologicamente preparados e evoluímos. Não são coisas inatas. Por isso, possuem um valor maior no nosso crescimento pessoal do que podemos imaginar.

 

Ler aguça a mente. Logo, este é o tempo de criar hábitos de leitura. E mesmo que uma pessoa não possua este hábito ou goste de ler, ao criá-lo, em uma semana, começa a sentir os seus efeitos. Quais? Uma mente mais desperta e capaz de associar a informação que lhe chega, visualizando padrões e conexãos que antes lhe passavam despercebidas. Isto é, aumenta a capacidade de compreensão do mundo à nossa volta. E há quem sinta isto como um aumento da inteligência e é-o, de facto. Mas como começar?

 

Há quem enfrente a criação de um hábito de leitura como passar a ler muito, ou a ler tudo e mais alguma coisa. Cansa-se e acaba por desistir, não criando o hábito. O truque é como a alimentação. Um pouco de cada vez. 

 

Pensa-se que se deve ler um capítulo até ao fim de cada vez que começamos a ler. Mas existem livros com capítulos pequenos e, por isso, “tragáveis”, mas outros com capítulos maiores, criando resistência à criação do hábito. 

 

A minha experiência é a de que o tempo é o melhor amigo na criação deste hábito. Começa-se por marcar num temporizador 5 minutos, ou 10 minutos e não nos preocupemos se chegamos, ou não, ao fim de um capítulo. Saboreemos as palavras, os diálogos, a construção das personagens, os cenários, ou as informações, e conhecimentos, caso seja um livro de não-ficção. E quando sentimos que a mente vagueia, não nos preocupemos, pois, é um sinal de que a capacidade humana de criar e estar junto com os seus pensamentos está a evoluir em nós. Quando isso acontece, foquemo-nos na próxima palavra, e na seguinte, e, assim, retomar a fluência da leitura.

 

Vivemos na Era da Experimentação. Os recursos que temos ao nosso alcance não se comparam com qualquer período anterior na história humana. E os livros são um dos mais evidentes e que podem revolucionar a nossa vida. Agora, que temos mais tempo para evoluir.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
Acompanhe os escritos do autor subscreveendo a Newsletter  Escritos

 

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail