Tudo

Crónicas 19 março 2020  •  Tempo de Leitura: 2

Tudo muda no mundo. Já o sabíamos desde que nos demos conta da evolução geológica, biológica e a cultural. Qualquer evolução acontece mediante as circunstâncias, o impulso que as coisas têm no momento, as relações que as ligam e as que as desligam. Tudo parecia demasiado normal até que um minúsculo ser muda tudo.

 

Todos os nossos planos esvaem-se. Toda a vaidade das nossas realizações de pouco serve. Tudo que era certo ficou adiado. Todo o controlo que pensávamos ter e toda a incerteza que nos preocupava, desvanece-se. Tudo muda inesperadamente e tudo depende da nossa capacidade de nos adaptarmos às novas circunstâncias.

 

Tudo agora é novo. E o que é novo apresenta um grau de risco e outro de oportunidade. Haverá escolha? Depende.

 

Se o modo como encaramos as incertezas da vida leva a que aumentemos as nossas preocupações, iremos ver mais o risco e a dificuldade do que a oportunidade de inovar. Mas se invertemos o nosso interpretar das incertezas para um modo em que são as limitações que nos conduzem no caminho da criatividade, um novo horizonte abre-se diante de nós.

 

No exterior tudo se fecha, mas não há quem impeça o nosso interior de se abrir excepto nós próprios. Por tempo demais restringimos ininterruptamente o nosso olhar a uma pequena e luminosa área. Podemos continuar a fazê-lo, mas agora deixámos de ter a desculpa de que não havia tempo para desviar esse olhar e pensar. Este é o tempo de quebrarmos o feitiço do entertenimento fácil para recuperarmos a nossa capacidade de aprender coisas novas e re-inventarmo-nos.

 

Tudo se joga no momento presente. Mas, tudo sempre se jogou no momento presente. Agora, a noção de o desperdiçarmos com o que é efémero é maior. E tudo graças ao menor que, sem qualquer política, mudou o curso da história humana.

 

Há que reconhecer com humildade o nosso lugar no cosmos. Não somos tudo, mas uma parte inextrincável que deveria reconhecer mais e melhor o valor das outras partes. Em particular, as mais pequenas.

 

Os tempos difíceis que vivemos são um convite a recomeçar. Sobretudo, o relacionamento com Aquele que pode ser tudo para nós se lhe entregarmos tudo.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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