Limitações

Crónicas 13 fevereiro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

O que aconteceria a um rio se não houvessem margens? Não desaguaria. Não seria um rio. Perderia a sua identidade. Do mesmo modo, as nossas limitações não são um obstáculo, mas fazem parte da nossa identidade.

 

O termo ”Abraçar o Tremor” foi introduzido pelo artista Phil Hansen partindo da sua experiência de vida quando via a sua carreira ameaçada por um problema neurológico que levava ao tremor sistemático das mãos. Em vez de se resignar à limitação física, usou-a para descobrir novas formas de ser criativo. As limitações são as margens daquilo que somos que nos conduzem ao mar daquilo que podemos ser.

 

«Primeiro precisamos de estar limitados para nos tornarmos sem limites. (…) Se tratares os problemas como possibilidades, a vida começa a dançar contigo dos modos mais extraordinários.» (Phil Hansen)

 

Image: Portrait of a young black boy on a collage of Starbucks paper cups
E se tivesse copos do Starbucks e um lápis? A arte de Phil Hansen.

 

-«Quanto mais uma pessoa se limita a si própria, mais criativa se torna.» (S. Kierkegaard)

 

Em 1960, Bennett Cerf, fundador de uma das maiores editoras americanas, a Random House, desafiou um autor, Theo Geisel, mais conhecido por Dr. Seuss, a escrever um livro para crianças usando apenas 50 palavras diferentes. Dr. Seuss aceitou, escreveu o pequeno livro “Ovos Verdes e Presunto” e ganhou a aposta. Curioso é o facto de se ter tornado o mais famoso livro deste autor com mais de 8 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Com 50 palavras apenas.

 

O escritor George R.R. Martin, mais conhecido pelos livros que deram origem à série Guerra dos Tronos, escreveu as 2 milhões de palavras que esses contêm num computador que nem sequer consegue enviar um email, usa o sistema operativo DOS (alguém ainda se lembra?), e o processador de texto WordStar 4.0. A sério.

 

 

Nos inícios da década de 1940, um jovem sueco percebeu que podia comprar caixas de fósforos mais baratas em Estocolmo e vendê-las por um preço mais elevado na sua pequena cidade, a quem precisasse, indo de casa em casa com a sua bicicleta. Pouco a pouco começou a expandir a sua pequena operação a ornamentos de Natal, peixe, sementes, canetas e lápis. Uns anos mais tarde começa, também, a vender mobílias. Com 17 anos, Ingvar Kamprad decide chamar ao seu negócio IKEA.

 

Por vezes estamos tão focados no que as nossas limitações nos impedem de fazer que nos tornamos cegos à criatividade que essas nos inspiram. Quantos pais não criaram novos modos de fazer exercício com a sua criança de um ano ao colo.

 

As limitações impelem-nos a fazer o melhor que conseguimos com o que temos disponível. E fazer do pouco que temos a maior obra de arte possível. Dispomos apenas de 3 cores? De 15 minutos para escrever? De um braço porque o outro está magoado? Quando mudamos a perspectiva e abraçamos os nossos limites, abrimos a mente e o coração à potência inerente à capacidade única que nos distingue do mundo natural - a criatividade.

Aprende quando ensina na Universidade de Coimbra. Procurou aprender a saber aprender qualquer coisa quando fez o Doutoramento em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico. É membro do Movimento dos Focolares. Pai de 3 filhos, e curioso pelo cruzamento entre fé, ciência, tecnologia e sociedade. O último livro publicado é Tempo 3.0 - Uma visão revolucionária da experiência mais transformativa do mundo e em filosofia, co-editou Ética Relacional: um caminho de sabedoria da Editora da Universidade Católica.
 
 
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