«De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens»

Crónicas 7 janeiro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

O título desta minha crónica é uma frase sobejamente conhecida de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto entre 1952 e 1982. Vem a propósito da recente celebração da Epifania do Senhor ou Festa dos Reis Magos.

 

Epifania significa "Manifestação". O Menino manifesta-se a estrangeiros que o vão visitar, os magos. É a "Magia do Natal". Logo após o nascimento de Jesus, os anjos cantam sobre a gruta, aos pastores é anunciado a boa notícia e com os magos essa mesma é ampliada. É a boa nova levada não só aos próximos da casa de Israel, mas a todos os povos do mundo conhecido. Diz o texto bíblico que vêm de Oriente. Porque é de lá que vem o sol. De oriente vem tudo o que "nasce", que "surge", que é novo.

 

«Entraram em casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante dele, adoraram-no. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presente: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho» (Mt 2, 11-12)

 

Ainda ontem, o Papa Francisco nos disse que a adoração, como exigência da fé, obriga-nos a ajoelhar perante Jesus e assim, vencermos a tentação de olhar apenas para nós mesmos, apenas para os nossos interesses. "De facto, adorar é fazer êxodo da maior escravidão: a escravidão de si mesmo".

 

A adoração de Deus é um gesto que muda a nossa vida. "É caminho para se desintoxicar de tantas coisas inúteis, de dependências que anestesiam o coração e estonteiam a mente". O ouro diz que nada é mais precioso do que o Senhor; o incenso é que só Deus eleva a nossa vida; a mirra é a promessa de socorrermos os marginalizados e os que sofrem.

 

E este verdadeiro encontro mudou o caminho dos magos. Assim deve acontecer connosco. Assim deve acontecer com todo aquele que encontra e adora Deus. Não ficamos retidos no mundo que estamos, nem agarrados  a uma fé vazia. Ganhamos um novo impulso para seguir por caminhos novos. Novas formas de amar e de ir ao encontro dos outros, porque neles está Jesus.

 

A frase de D. António é explicita muito bem esta realidade. Se perante Deus estivermos de joelhos, então, de pé, iremos ao encontro e socorro do outro. E estaremos em pé de igualdade. De igual para igual. Com a mesma dignidade.

 

Subjugar o outro aos meus caprichos e à minha vontade, destrói e leva à morte. Sempre que alguém, ou alguma ideologia assumiu o papel de Deus, aconteceram desgraças e destruição em série.

 

Que neste início de ano sejamos capazes de adorar Deus e servir o ser humano. Como os magos, sejamos capazes de seguir por novos caminhos.

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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