Tempos de Deus
“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu” (Ecl 3, 1).
Hoje é dia 27, dia de recordar e celebrar aquele que nos uniu em vida e que agora nos reúne na morte. Os meses passam e os sentimentos continuam agridoces, mas na tua infinita sabedoria, Senhor, ensinaste-nos que para tudo há um momento e todos são teus. São dádivas porque desde a criação plantaste nos nossos corações o desejo de ti e para ti caminhamos enquanto por cá andamos.
Deste-nos uma comunidade para que nunca caminhemos só. Estás presente em todos os que caminham connosco e nessa comunhão a nossa cruz torna-se mais leve, ainda que em algumas ocasiões e face a determinadas situações tenhamos alguma dificuldade em perceber isso.
A morte é uma delas. Pela fé acreditamos que a vida não termina quando chega o nosso ‘tempo de morrer’ (cf. Ecl 3,2), mas precisamos do nosso ‘tempo de chorar, de lamentar e de calar’ (cf. Ecl 3, 4.7). Na nossa fragilidade e limitação não conseguimos processar de imediato a perda de alguém que já não vamos ver, ouvir ou tocar. Demoramos a desligar das mais pequenas rotinas, dos mais pequenos gestos. Passado mais de um ano, ainda não apaguei do telemóvel os contactos dele, mesmo sabendo que foram desativados.
No entanto, graças a ti outras rotinas nasceram. Dia 27 é dia de missa e jantar, oração e fração do pão. Rir e chorar. Recordar e celebrar. Agradecer estarmos na presença uns dos outros, partilhando não só o pão, mas também as nossas alegrias e tristezas, bênçãos divinas e dificuldades humanas.
Dia 27 é dia de regressar a casa cansada, mas agradecida. Dia de deitar a cabeça na almofada e adormecer, como tu adormeceste no barco numa noite de tempestade, serena e em paz (cf. Mc 4,38). A paz de saber que estás sempre connosco e nessa certeza capacitas-nos a ‘em tudo sermos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; abatidos, mas não aniquilados’ (cf. 2Cor 4, 8-9). Aceitamos, às vezes com alguns amuos, que não nos darás sempre o que desejamos, mas sabemos que nos darás exatamente o que precisamos para viver cada dos teus tempos.