Tempos de Deus

Crónicas 27 junho 2025  •  Tempo de Leitura: 2

“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu” (Ecl 3, 1).

 

Hoje é dia 27, dia de recordar e celebrar aquele que nos uniu em vida e que agora nos reúne na morte. Os meses passam e os sentimentos continuam agridoces, mas na tua infinita sabedoria, Senhor, ensinaste-nos que para tudo há um momento e todos são teus. São dádivas porque desde a criação plantaste nos nossos corações o desejo de ti e para ti caminhamos enquanto por cá andamos.

 

Deste-nos uma comunidade para que nunca caminhemos só. Estás presente em todos os que caminham connosco e nessa comunhão a nossa cruz torna-se mais leve, ainda que em algumas ocasiões e face a determinadas situações tenhamos alguma dificuldade em perceber isso.

 

A morte é uma delas. Pela fé acreditamos que a vida não termina quando chega o nosso ‘tempo de morrer’ (cf. Ecl 3,2), mas precisamos do nosso ‘tempo de chorar, de lamentar e de calar’ (cf. Ecl 3, 4.7). Na nossa fragilidade e limitação não conseguimos processar de imediato a perda de alguém que já não vamos ver, ouvir ou tocar. Demoramos a desligar das mais pequenas rotinas, dos mais pequenos gestos. Passado mais de um ano, ainda não apaguei do telemóvel os contactos dele, mesmo sabendo que foram desativados.

 

No entanto, graças a ti outras rotinas nasceram. Dia 27 é dia de missa e jantar, oração e fração do pão. Rir e chorar. Recordar e celebrar. Agradecer estarmos na presença uns dos outros, partilhando não só o pão, mas também as nossas alegrias e tristezas, bênçãos divinas e dificuldades humanas.

 

Dia 27 é dia de regressar a casa cansada, mas agradecida. Dia de deitar a cabeça na almofada e adormecer, como tu adormeceste no barco numa noite de tempestade, serena e em paz (cf. Mc 4,38). A paz de saber que estás sempre connosco e nessa certeza capacitas-nos a ‘em tudo sermos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; abatidos, mas não aniquilados’ (cf. 2Cor 4, 8-9). Aceitamos, às vezes com alguns amuos, que não nos darás sempre o que desejamos, mas sabemos que nos darás exatamente o que precisamos para viver cada dos teus tempos.

Raquel Dias

Cronista "Lavar o Dia"

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e apaixonada pela escrita. Voluntária na paróquia de São Julião da Barra. Ovelha perdida que reencontrou o caminho. Hoje, de coração cheio e grato, procura transmitir a alegria do Evangelho a todos os que cruzam o seu caminho. \"Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?\" (cf. 8. Evangelii Gaudium)

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