O adeus em tempo de pandemia

Crónicas 2 novembro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

Estamos a atravessar um tempo difícil. Um tempo incerto, de dúvidas e medos, de saudade e desafios. Mas há algo que tem sido bem mais difícil de digerir: o adeus em tempo de pandemia.

 

Ao longo da nossa vida passamos por vários tipos de adeus: o adeus/até já, o adeus de terminar uma fase e começar outra e o adeus eterno a alguém que morre. E como têm sido difíceis estes tipos de adeus durante esta pandemia.

 

Se pensarmos bem, o adeus/até já passou a ser muito mais incerto. Quando dizemos até já ou até amanhã, dizemos sem saber se dentro de umas horas não virá uma nova medida que nos obrigue a adiar esse reencontro. Dizemo-lo na incerteza de quando será o amanhã em que nos voltamos a ver.

 

Quantos de nós disseram até amanhã, até para a semana, ou até daqui a uns dias antes da pandemia e do nada vimos esse reencontro adiado? Famílias que estão há meses sem se verem, emigrantes que não regressam a casa este ano, reencontros muito ansiados em suspense até que este vírus nos deixe abraçar de novo.

 

Também este tem sido um tempo desafiante. Um tempo onde muitos têm de colocar um ponto final nalgumas fases da sua vida para começar outras de maior descoberta e desafio. Somos constantemente obrigados a redescobrir o nosso eu, os nossos sonhos e objetivos. Somos levados a descobrir mundos que não ponderávamos anteriormente. E não podemos considerar que seja algo mau. Muito pelo contrário! É algo que não era pensado nem esperado por nós, mas crescemos com estas novas aprendizagens, ganhamos novos sonhos e novas ambições. E isso é muito bom!

 

Mas há um adeus que é difícil naturalmente, mas que em tempos de pandemia, ainda mais difícil o é. Há lutos que ficam por fazer, porque não é possível ver o ente querido uma última vez. Não nos é permitido uma última troca de olhares ou um último toque nos últimos dias de vida quando a pessoa está internada. Não nos é permitido despedir como tanto precisamos de fazer.

 

É um adeus que era reconfortado com os abraços que também não são permitidos neste momento. Não podemos receber o abraço forte de alguém que sem falar nos diz «vai tudo correr bem». Não podemos abraçar com força alguém que precisa muito de ser reconfortado. E este é, na minha opinião, o adeus que mais tem custado e que deixa no ar tantas despedidas que deveriam ter sido feitas.

 

Contudo, o adeus em tempos de pandemia, que tanto nos tem ensinado e desafiado, trouxe-nos uma grande lição: valorizar o momento. Valorizar quando podemos abraçar, quando podemos beijar, quando podemos dizer que amamos. Valorizar quando podemos estar juntos, jogar, dançar, brincar. Valorizar quando estamos a viver o momento com o outro, porque amanhã não sabemos quando será.

 

Por isso, aproveita os momentos que tens com o outro. Cria bonitas memórias enquanto os vives. Porque assim, se o amanhã não chegar tão cedo como gostaríamos, sabes que viveste o hoje ao máximo. Estás disposto a isto?

A Joana nasceu em 1992, no Porto. Licenciou-se em Enfermagem na ESEP, com Mestrado em Musicoterapia na Universidad Autonoma de Madrid. É Animadora de Pastoral Juvenil e Voluntária Missionários com os Missionários Claretianos desde 2010, tendo estado por duas vezes em missão em São Tomé e Príncipe e participado nas JMJ Madrid 2011 e Cracóvia 2016.

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