Uma vontade firme

Crónicas 2 julho 2020  •  Tempo de Leitura: 2

- Quem te morreu? – perguntou.

- Morreu-me a vida – disse, ficando em silêncio.

 

Creio que a vontade nasce algures nas profundezas do nosso ser, num lugar resguardado de ingredientes que nos puxam para trás, ainda que estes vivam permanentemente atentos para a tomar de assalto.

 

É ela que nos leva cada dia a levantarmo-nos e seguir pelos caminhos incógnitos da vida. Os nossos dias são feitos de planos e rotinas e teimamos em preencher uma agenda que pensamos, no ponto de partida, nos trará algum sentido e significado aos dias da nossa existência.

 

É que às vezes, deixamos pouco espaço para as surpresas do caminho, esse tempo-espaço onde a Providência nos pode dar ainda mais a garantia de fazer caminho ao nosso lado.

 

A vontade, é aquele lugar que nos faz mover, para lá de todos os planos desfeitos, de agendas pseudo-ocupadas, de problemas e catástrofes. É nela e com ela que nos superamos.

 

Ela pode fazer-se fraca, não quando são furados os nossos planos, mas quando o coração não sabe para onde ir. Quando temos a resposta ao que “em verdade queremos”, torna-se firme e muda a nossa vida e a forma de nela nos movermos.

 

Pequenas gotas de vontade validam o enorme tesouro que transportamos!

 

A vontade não tem boa relação com o conformismo nem com os dias sustentados em hábitos cristalizados que fazem de nós mais autómatos que pessoas. Poderemos andar subnutridos de vontade sem perceber muito bem os seus efeitos potencialmente benéficos. Poderemos caminhar com a ausência deste ingrediente da nossa coluna vertebral interna. Sim, essa, a da alma!

 

Na vontade escolhemos viver a questionarmo-nos e a questionar o mundo, não como quem nunca se encontrou e vive permanentemente insatisfeito consigo e com os demais, mas como quem sabe que o encontro e construção se dá mais nas perguntas do que nas respostas. Como quem se reconhece agraciado pelo tesouro incomensurável da Vida e a quer cumprir em plenitude.  

 

É a firmeza da vontade que consegue com que a vida não nos morra nas mãos, antes de nós próprios morrermos.

Cristina Duarte

Cronista

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