Rezar a Vida: Recantos de uma vida

Crónicas 29 abril 2020  •  Tempo de Leitura: 1

Ajuda-me, Senhor, a rezar os recantos vazios de uma vida cheia.

Vida que me dás em abundância e que renovas a cada dia.

Vida que consolas na tristeza, que acompanhas na solidão,

Que sustentas na fraqueza e que animas no cansaço.

 

Vida que chora, que ri, que grita e que emudece,

Vida que nem sempre compreende os teus caminhos

E que tantas vezes hesita, tropeça e duvida.

 

Vida que às vezes não te reconhece

A caminho da Emaús do orgulho e dos projetos pessoais.

Vida que, errante e desanimada, teimosamente se afasta

Da Jerusalém da tua vontade e da generosidade do teu amor.

 

Amor das surpresas e do oportuno e incisivo sentido de humor,

Amor que vem ao meu encontro, que se faz alimento no pão repartido,

Amor que se fez Palavra e que comigo faz memória

Da história que contamos juntos.

 

Palavra que desperta este coração “lento de espírito” (Lc 24, 25),

Que o questiona, interpela, converte e ressuscita

Das trevas sepulcrais em que, de tempos em tempos, habita.

 

Vida transfigurada que derramas sobre mim,

Quando contrito te procura o meu coração.

Coração que bate assustado por ser desconfiado,

Mas que sempre encontra misericórdia e perdão,

Quando repousa reconciliado e abrasado no teu.

 

Vida imperfeita, mas profundamente agradecida

Por tudo quanto me tens dado a viver.

O doce do mel e o amargo do fel ganham novo sentido

Quando contemplo a cruz da tua paixão.

 

Reza comigo, Senhor, os recantos vazios de uma vida cheia,

Recantos que iluminas com a alegria pascal

Da vida que entregaste por mim.

Vida nascida numa primavera florida e que ainda tem tanto para aprender.

Raquel Dias

Cronista Rezar a vida

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e apaixonada pela escrita. Voluntária na paróquia de São Julião da Barra. Ovelha perdida que reencontrou o caminho. Hoje, de coração cheio e grato, procura transmitir a alegria do Evangelho a todos os que cruzam o seu caminho. \"Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?\" (cf. 8. Evangelii Gaudium)

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail