E viveram felizes para sempre?

Crónicas 6 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Crescemos muito familiarizados com a expressão: e viveram felizes para sempre. E todos queremos o nosso final feliz porque o desejo de amar e sermos amados está em cada um de nós.
Mas tenho aprendido que se crescermos só a ler, a ver e a ouvir uma parte da história, vamos coxos. Talvez a continuação da história, à primeira vista, pareça desinteressante, menos mágica, pouco romântica. Mas talvez seja a parte mais interessante. Acredito que é aí, na continuação do final feliz, que reside a beleza de amar e ser amado.
Sempre me perguntei o que aconteceria depois do final de alguns contos de fadas e romances do cinema. O que acontece depois daquele beijo, daquela declaração de amor, das pazes feitas, do reencontro, da descoberta, da certeza, do sim?
Se calhar mal começam a aparecer os nomes do elenco no final do filme, já alguém bateu uma porta, se desiludiu ou perdeu a paciência. Muito provavelmente, quando o Verão acaba o Outono traz desafios que não se esperavam. E as personagens fraquejam. E têm dúvidas. E há tensão. E há divisão. E é preciso amparo, ânimo, consolo e conselho de muitas outras personagens da história. E há Invernos difíceis, de temperaturas geladas e silêncios ensurdecedores. E noites de solidão, mais longas do que os dias...
Então há que tomar decisões. E arregaçar as mangas. Sofrer. Lutar. Esperar. Permanecer. Persistir. Porque não se ama da porta, à entrada das cenas da vida, nem só no quentinho. Às vezes faz muito frio. Amar é partilhar o que dói. E para partilhar tem que haver entrega. O amor não vive de espreitarmos para dizer olá, de entradas e saídas de rompante, ou só de cenas mágicas dignas de filme. Também as há. Mas ama quem arrisca entrar em cena, em todas as cenas. Quem espera, quem aprende a esperar. Quem procura cuidar e respeitar o interior do outro. Quem tem paciência para as portas que se fecham. Quem persiste em bater à porta. Quem olha pela mesma janela. Quem nunca se cansa de dar a mão.
E eis que chega um novo encontro, eis que o beijo tem uma nova intensidade, eis que se fazem novas descobertas, e o sim é um sim renovado.
Então o final feliz é uma treta? Se ficarmos só pelo final, sim é. Mas se o nosso princípio no amor for o do princípio feliz, que nunca se cansa de recomeçar, que aceita renascer das feridas, que perdoa as fragilidades das personagens e da história, então não haverá finais felizes. Haverá princípios felizes! Construídos todos os dias. Haverá uma história real chamada vida. Haverá a nossa história, a nossa vida.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail