Gotas no oceano

Lavar o dia 13 junho 2025  •  Tempo de Leitura: 4

“Ainda não tendes fé” (Mc 4, 40).

Por onde começar, Senhor?

 

São tantas as desgraças e catástrofes que assolam aqueles que criaste para ti! Guerras, terremotos, inundações e incêndios destroem quotidianamente a tua criação. Uns por força da natureza, mas tantos pela mão do Homem. Avanços médicos transformados em armas biológicas, preparadas para causar o maior número de mortes possível.

 

Avanços tecnológicos transformados em armas de guerra, drones guiados remotamente protegendo covardes que querem dizimar raças, etnias e credos em nome de ídolos que criam às suas medidas.

 

Governantes ensimesmados que preferem privilégios, fama e riqueza em detrimento do bem comum, endeusando-se e desrespeitando tudo o que nos vieste ensinar. Justificam genocídios, negam ajuda humanitária, roubam pessoas da sua dignidade e direitos, como o direito de tomar decisões em liberdade e sem medo de represálias ou como o direito de ser diferente, de ser humano. Se nos quisesses todos iguais, terias criado clones, manietados por ti.

 

Governantes que se tomam por salvadores de Portugal e do mundo inteiro, sedentos de poder e tentando roubar também a ti a liberdade de seres quem és.

 

Será mesmo verdade que ‘não sabem o que fazem’(cf. Lc 23, 34)?

 

Por onde começar, Senhor?

Neste oceano de tormentas no qual chapinhamos com medo de afogar, só tu nos podes ajudar a dobrar o cabo da Boa Esperança. Só a ação do teu Santo Espírito em nós conseguirá converter os nossos ‘corações de pedra em corações de carne’ (cf. Ez 36, 26) e capacitar-nos para cumprir o teu mandamento de ‘amar como tu nos amaste’ (cf. Jo 15, 12). Só a ação do teu Espírito de amor pode agraciar o nosso entendimento de sabedoria para compreender a responsabilidade, a fidelidade e o compromisso que este mandamento nos urge: estarmos dispostos a entregar a vida em liberdade para o bem do outro, a ‘tomar a nossa cruz diariamente e seguir-te’ (cf. Lc 9, 23), não só por ‘caminhos retos, verdes prados e águas refrescantes, mas também por vales tenebrosos’  (cf. Sal 23, 2-4) para, sem medo, estarmos dispostos a beber do cálice do teu batismo de sangue na cruz da salvação.

 

Mas, por onde começar, Senhor?

Por onde começar a ser uma gota na imensidão deste oceano à deriva e sem fé, esperança e amor? Como combater a sensação de impotência perante estas marés vivas? A quem acudir primeiro?

 

Guia-nos, Senhor, e ensina-nos a ‘alegrarmo-nos com os que se alegram e chorarmos com os que choram’ (cf. Rom 12, 15). Dá-nos a mansidão e humildade para vestir o que foi despido de dignidade; visitar os doentes e os presos, oferecendo consolo e liberdade interior com a tua Palavra; dar abrigo aos excluídos (cf. Mt 25, 35-46) , aliviando o cansaço de quem ‘não tem onde repousar a cabeça’ (cf. Lc 9, 58), e alimentar o faminto com o pão de cada dia e dar a conhecer o teu pão de Vida a quem não ainda não sabe quem és (cf. Mt 25, 35-46) . Ensina-nos ainda a rezar pelos que à nossa frente partiram ao teu encontro, fazendo memória de tudo o que foram para nós e mantendo viva a comunhão dos santos que nos faz pedras vivas da tua Igreja.

 

Ajuda-nos a ser coerentes em gestos e palavras com a lógica das bem-aventuranças que nos propuseste, a sermos capazes de ser ‘misericordiosos como o Pai’, e a crescer no teu amor. Dissipa os nossos medos e aumenta a nossa fé e diz-nos, Senhor, por onde começar.

Raquel Dias

Cronista "Lavar o Dia"

Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e apaixonada pela escrita. Voluntária na paróquia de São Julião da Barra. Ovelha perdida que reencontrou o caminho. Hoje, de coração cheio e grato, procura transmitir a alegria do Evangelho a todos os que cruzam o seu caminho. \"Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?\" (cf. 8. Evangelii Gaudium)

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