Conto: «A magia da boa-educação.»

Conto 15 março 2024  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um jovem motorista de autocarro que era conhecido por toda a gente pelo seu profissionalismo e pela sua boa-educação e simpatia. Para além de jamais alguém o ter visto a desrespeitar o código da estrada ou a transgredir a mais simples regra de trânsito, o que mais cativava as pessoas era a sua habitual bondade e boa disposição. Saudava sempre com amabilidade os passageiros que entravam e despedia-se de todos e cada um com um sorriso no rosto quando saiam.

 

Um dia, o autocarro teve de demorar um pouco mais numa paragem onde saíram e entraram muitos passageiros e o condutor de um automóvel perdeu a paciência, buzinou insistentemente ao ultrapassar e dirigiu maia dúzia de palavrões ao motorista. Como ele levantou o braço e pediu desculpa, uma senhora elogiou-lhe a educação e a tranquilidade, apesar do tom grosseiro do outro condutor. Então, ele respondeu:

 

- Pois… infelizmente vê-se pouca educação por aí. Hoje em dia, parece que aquilo que deveria ser normal na forma como nos relacionamos uns com os outros, ou seja, ser educado, ter boas maneiras, ser cortês, gentil e simpático, tornou-se algo raro e excecional, digno de registo e merecedor dos maiores elogios. Mas, mais do que uma obrigação, ser bem-educado com as outras pessoas é uma atitude que revela o nosso caráter. Ninguém é obrigado a estar de bom humor todo o dia e todos os dias, mas ser educado com a toda a gente é um dever e um valor a cultivar. Os outros não têm culpa de que estejamos chateados, tristes ou preocupados e merecem respeito e afabilidade, qualquer que seja a circunstância em que nos encontremos.

 

Noutra ocasião, um homem entrou no autocarro visivelmente aborrecido com alguma coisa e sentou-se sem mostrar o bilhete.  O jovem motorista pediu-lhe delicadamente o documento, mas o homem respondeu de forma rude e ofensiva e, após o ter empurrado com agressividade, decidiu sair do autocarro. Quando uma rapariga enalteceu a afabilidade e paciência do motorista, ele suspirou e respondeu:

 

- Obrigado pelo elogio. A verdade é que dizer tudo o que pensamos a uma pessoa, sem bons modos e sem nos preocuparmos se a estamos a magoar, não é propriamente sinceridade e frontalidade, mas maldade e má educação. A educação, mais do que a utilização de palavras cordiais, tem a ver com atitudes que demonstram respeito e empatia para com os outros. Podemos dizer tudo o que pensamos, mas tudo deve ser dito com respeito e humildade, pois a nossa opinião pode não ser a verdade absoluta. Devemos tratar toda a gente com cortesia e delicadeza, apesar de que há também muita gente com bons modos, mas que, em muitas circunstâncias, revela maus princípios.

 

Uns tempos mais tarde, uma senhora entrou com o filho no autocarro e ele, depois de ter posto a língua de fora ao motorista, passou toda a viagem a fazer birras, a gritar com a mãe, a meter-se com os outros passageiros e a sujar os vidros das janelas e os assentos com tudo e mais alguma coisa. Como a mãe não parecia ter mão no rapaz, o motorista parou o autocarro, foi junto dele e disse-lhe:

 

- Menino, desculpa que te diga, mas não me parece que estejas a portar-te bem e isso deixa a tua mãe triste e todos estas pessoas preocupadas com o teu futuro. Ter um curso e ser culto é muito importante, mas a melhor herança que os pais podem deixar aos filhos é serem bem-educados, terem boas maneiras e tratarem sempre os outros com dignidade. A boa educação não tem preço e possui um enorme valor em toda a parte. Olha, há palavras que parecem ter poderes mágicos, fazem maravilhas e são chaves que abrem muitas portas: dizer ‘olá’, ‘bom dia’, ‘com licença’, ‘por favor’, ‘muito obrigado’ ou ‘desculpe’. Muitas vezes, mais importante do que aquilo que se diz, é a forma como se diz e isso faz toda a diferença.

 

O rapaz pediu desculpa à mãe e às outras pessoas, agradeceu ao motorista e prometeu mudar radicalmente as suas atitudes. A fama da competência e boa-educação do jovem motorista espalhou-se rapidamente por todo o país e, uns meses mais tarde, o Presidente da República condecorou-o com a medalha de mérito profissional.

Paulo Costa

Conto

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