Conto: «A alegria que voa de mão em mão»

Conto 18 janeiro 2023  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um rapaz que viu um passarinho no chão a piar e a tremer de frio. Caíra do ninho e, como a mãe não o viera buscar, recolheu-o e cuidou dele até ser capaz de comer sozinho e começar a esvoaçar.

 

Um dia, o rapaz decidiu oferecer o passarinho dentro de uma gaiola a uma colega da sua escola que andava triste porque o seu cão desaparecera havia algumas semanas. A rapariga ficou muito feliz e agradecida com aquele gesto cheio de afeto e, quando a professora se apercebeu, disse à turma:

 

- Que bonito o que acabei de ver. O João ofereceu um pardal à Matilde porque a viu desanimada e ela ficou muito contente. Sabem que a chave da porta da felicidade é fazer tudo o que seja necessário para que os outros sejam felizes e alegrar-se com a sua alegria. A alegria de amar desinteressadamente e fazer o bem são o segredo para a felicidade autêntica. A maior satisfação que podemos sentir é quando somos capazes de proporcionar alegria a alguém, pois ela é para a nossa vida aquilo que o sol e a água são para o planeta. Os amigos fazem aumentar a nossa felicidade, diminuir o nosso sofrimento, multiplicar a nossa alegria e dividir a nossa tristeza. Parabéns, João e Matilde, por esta lição de vida. Alegramo-nos todos convosco.

 

Então, a Matilde levou alegremente a gaiola com o passarinho para casa, mas, pelo caminho, lembrou-se da idosa que todos os dias lhe sorria e falava um bocadinho consigo desde a janela de sua casa. Achou que a alegria que sentira ao receber o pardal poderia acontecer novamente se o oferecesse à velhinha que vivia sozinha e que estava doente. Ela ficou muito comovida com o passarinho e disse à rapariga:

 

- Minha querida, muito obrigado porque, sem o saberes, gosto muito de passarada e alegraste muitíssimo o meu dia. Custa-nos a acreditar que a verdadeira felicidade pode estar mais perto do que parece. Ela pode estar na própria casa, por entre as alegrias simples e genuínas da família, ou quando estamos e nos alegramos com os amigos. Aprendi a não deixar de aproveitar as pequenas alegrias do quotidiano, em vez de desanimar com a demora da chegada da felicidade em toda a sua plenitude. Olha, seremos muito mais felizes se, em vez de nos lamentarmos pelo que não temos, nos alegrarmos com o que possuímos e se não nos esquecermos que a alegria depende sobretudo do que somos, sentimos, acreditamos e conseguimos.

 

Uns dias depois, a idosa, sentindo-se melhor, decidiu oferecer a gaiola com o passarinho ao diretor da escola onde tinha sido funcionária durante muitos anos. Tinha-se dado conta que o pardal parecia triste e nunca cantava e que talvez o espaço verdejante da escola e a alegria efusiva das crianças pudessem animá-lo. O João, que tinha oferecido o passarinho à Matilde e esta, que o tinha dado à idosa, ficaram surpreendidos e, ao mesmo tempo, muito alegres de o reverem por ali. Então, o diretor chamou todos os alunos da escola, mostrou-lhe a gaiola com o pardal e disse:

 

- Amigos, esta história vai ter um final feliz para todos. Já percebi que este passarinho voou de mão em mão a espalhar alegria por muita gente e julgo que chegou o momento de lhe oferecermos a liberdade para que possa viver com a alegria que merece. Podemos estar alegres connosco mesmos durante algum tempo, mas, mais cedo ou mais tarde, a nossa alegria precisa de ser partilhada com alguém para que tudo faça sentido e tudo valha a pena. Não podemos permitir que as tristezas de ontem e as incertezas do amanhã perturbem e estraguem as alegrias de hoje e não podemos esquecer que a compreensão do outro apenas acontecerá plenamente com a partilha das suas alegrias e mágoas. Quem não sentiu a dor e a tristeza, dificilmente dará valor à alegria, pois a alegria não está nas coisas, mas em nós mesmos.

 

Para alegria de todos, o passarinho saiu da gaiola, esvoaçou para as árvores da escola e começou logo a cantarolar. O pardal passou a visitar as crianças todas as manhãs, voando entre elas no recreio e cantando alegres melodias no parapeito das janelas das salas. E a cada dia que passava, crescia o número de pássaros por aquelas bandas.

Paulo Costa

Conto

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