Conto: O terrível vírus do racismo

Conto 16 maio 2022  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez uma menina muito alegre e simpática. Tinha um tom de pele moreno, pois o pai era negro e a mãe branca. Sentia-se muito feliz pois toda a gente dizia que era muito querida e bonita pois herdara a bondade, a inteligência e a beleza de duas raças diferentes e isso tornara-a muito especial.

 

Um dia a menina ia com o pai a casa dos avós e a polícia mandou parar o carro, exigindo que ele saísse rapidamente, abrisse as pernas e levantasse os braços e revistaram-no. Depois, perguntaram à menina se tinha medo, se precisava de ajuda e quem era aquele homem. Como a menina disse, meio assustada, que estava muito bem e que aquele era o seu pai, a polícia pediu desculpa, justificando-se que não era muito comum ver um preto com um bom carro e com uma criança tão bonita consigo. Aquilo perturbou muito a menina e quando chegou a casa dos avós, o pai abraçou-a e, sentando-se ao seu lado no sofá, disse-lhe:

 

- Filha, ninguém é responsável pela sua cor da pele e essa realidade da natureza não revela o caráter ou a inteligência das pessoas. O racismo e a discriminação são próprios de pessoas pobres de espírito que julgam os seres humanos pelo seu aspeto exterior. Haverá conflitos e desavenças sempre que a cor da pele tiver mais significado do que o sorriso de um rosto e o brilho de um olhar. ⁠A cor da pele não pode nem deve ser condição de julgamento ou indiferença, já que a única característica que distingue as pessoas e as torna únicas e irrepetíveis é a impressão digital. Ninguém é igual a ninguém e cada ser humano é único, mas, simultaneamente, somos todos iguais em dignidade e todos merecemos respeito. A única raça que existe é a raça humana e a variedade de tonalidades de pele e a diversidade intercultural é uma riqueza, como se todos fossemos parte de uma bela e colorida aguarela.

 

Num outro dia a menina foi com os pais jantar a um restaurante e apercebeu-se que uma senhora não queria ficar na mesa ao lado, argumentando que jamais se sentaria ao lado de gente de cor e até sugeriu que deveria haver salas separadas ou restaurantes diferentes para esse tipo de gente, que deveria era ir para a sua terra. A menina ficou incomodada e a mãe, serenamente, fez-lhe um carinho no rosto e disse-lhe:

 

- Meu amor, não há ninguém que nasça a discriminar as outras pessoas em função da sua cor de pele ou marginalize alguém por causa do seu país de origem. Para que tal aconteça, alguém teve que ensinar e se é possível aprender a odiar, também se pode ensinar o respeito, a tolerância e o amor. O racismo existe por causa do medo do desconhecido e da insegurança diante daqueles que são diferentes. O racismo, a xenofobia, o preconceito e a segregação são sinais de ignorância. É a falta de educação e o mau carácter que conduzem ao racismo, que é um sintoma evidente de que evoluímos em tantas coisas, mas ainda somos muito pré-históricos em tantas outras.

 

Noutra ocasião, a menina acompanhou o pai às compras num supermercado e um segurança logo os acompanhou de perto. Passado algum tempo, pediu-lhes que fossem para uma sala ao lado e revistou-lhes as mochilas que levavam. Quando o pai da menina referiu que era professor universitário, o segurança disse que até lhe custava a acreditar que um africano conseguisse ter tirado um curso superior e que, às vezes, jovens negros assaltavam aquele estabelecimento comercial e daí a sua atitude de desconfiança.  

 

Como a menina voltou a ficar triste e magoada com aquela situação, o pai disse-lhe:

 

- Querida, o racismo é um vírus terrível e a discriminação conduz à mais terrível epidemia da humanidade pois desumaniza as pessoas. Mais do que educar para a tolerância e contra o racismo, a aprendizagem essencial é o diálogo e o respeito pelo ser humano, independentemente das diferenças físicas, convicções ou opções de vida. Precisamos é de ser humanos. O preconceito só acontece quando não somos capazes de nos colocarmos no lugar dos outros. A verdade é que aprendemos a voar como as aves, a nadar como os peixes e temos muitas dificuldades a aprender a viver em família como irmãos. Mas isso é possível, tenho esse sonho e está nas nossas mãos.

Paulo Costa

Conto

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