Conto: A gratidão do velho jardineiro

Conto 17 janeiro 2022  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um velho jardineiro de uma mansão que, ao cortar a relva, golpeou inadvertidamente uma pequena árvore junto ao lago. Quando o jardineiro contou à proprietária o sucedido, ela ficou muito aborrecida pois comprara a árvore havia pouco tempo e decidiu despedi-lo pelo seu descuido inqualificável. O pobre homem pediu humildemente perdão, não deixando de lhe agradecer a honra de ali ter trabalhado durante trinta anos e por ela permitir que ali permanecesse até ao final do mês. Após prometer comprar e plantar uma nova árvore, o pobre homem disse à senhora:

 

- Muito obrigado por tudo, minha senhora. Sou muito grato às adversidades que apareceram na minha vida, já que elas me ensinaram a tolerância, a simpatia, o autocontrole e a perseverança. Estou muito agradecido aos que me criticaram, pois graças a eles tenho hoje muitas pessoas que me elogiam e gostam de mim. Sou grato àqueles que tentaram deitar-me abaixo, pois, sem quererem, deram-me força para lutar por mais e melhor. A gratidão faz-nos agradecer até pelas coisas menos boas porque nos fazem perceber que tudo foi necessário para sermos o que somos agora.

 

Passados uns dias, o velho jardineiro deu-se conta que o dono da casa não saíra à hora habitual de todas as manhãs e, achando estranho, foi procurá-lo. Encontrou-o caído na garagem e logo chamou a sua esposa e telefonou para que viesse uma ambulância. A senhora ficou sensibilizada com a atitude do homem e, perguntando-lhe porque ajudara o marido, apesar de ter razões para estar triste e chateado, ele disse-lhe:

 

- A vida de uma pessoa é o valor supremo e eu não poderia deixar de fazer o que fiz. Sempre me senti muito grato por, durante tantos anos, o seu marido me cumprimentar todos os dias e conversar um pouco comigo e, claro, isso não aconteceu hoje. Sabe, quando o nosso coração está cheio de gratidão, qualquer porta aparentemente fechada pode ser uma abertura para coisas bem maiores e melhores. Muitas vezes, o nosso descontentamento e insatisfação por aquilo que não temos ou não conseguimos, resulta da nossa falta de gratidão por tanta coisa que temos e que a vida nos ofereceu. As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo. Devemos agradecer o nosso hoje, pois fará com que o amanhã seja melhor do que o ontem. Devo muito ao seu marido e a si.

 

No hospital, os médicos disseram à esposa que o marido fora salvo por um triz e se não o tivessem levado tão rapidamente, ele teria morrido irremediavelmente.  Então, o homem olhou para a mulher e pediu-lhe que repensasse a decisão de despedir o velho jardineiro, já que os servira durante três décadas e nunca lhe tinham agradecido a competência e dedicação e, ao primeiro erro, ela não o tinha perdoado. Depois, disse:

 

- Devo muito a este pobre homem e já aprendi muito com ele. A sua humildade e sabedoria sempre me comoveram. A gratidão é a mãe de todos os sentimentos, a virtude das almas nobres, o tesouro das pessoas humildes, o fruto da dignidade e a memória do coração. Nenhum dever é mais importante do que a gratidão e não há na vida nenhum exagero mais belo. A gratidão é a melhor medida do caráter de uma pessoa. A gratidão não custa nada e tem um valor imenso. Na verdade, a gratidão toma conta de nós sempre que percebemos que estamos a viver e tomamos consciência do valor das coisas belas e simples da vida. Não podemos prescindir deste amigo.

 

Uns dias mais tarde, quando o senhor chegou a casa do hospital, a esposa chamou o jardineiro, agradeceu-lhe a vida do marido, pediu-lhe desculpa e disse-lhe que tinha sido ingrata e injusta. Já não iria ser despedido. Então, ele respondeu:

 

- Não fiz mais do que a minha obrigação. Mas, muito obrigado. Aprendi que deveríamos ser gratos a Deus por não nos dar tudo que lhe pedimos e por nos ensinar que os obstáculos da vida nos fazem crescer. Agradeço a Deus por tudo. A gratidão é o reconhecimento da mão de Deus em todos os detalhes na nossa vida.

 

Então, o casal decidiu oferecer ao velho jardineiro um quarto no casarão como sinal da sua gratidão e como prova de reconhecimento da sua estima e fidelidade.

Paulo Costa

Conto

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