Conto: A regra de ouro da tolerância

Conto 15 novembro 2021  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez uma rapariga que se chamava Maria. Era muito preconceituosa e discriminava muitas vezes os colegas da escola, julgando-se sempre a melhor e a mais perfeita. Para mal dos seus pecados, a sua turma tinha, desde o início do ano letivo, três alunos novos e, como seria de prever, desprezava-os e gozava-os pelas suas características, apesar da sensibilização dos colegas e dos professores.

 

Num dia de tempestade, a velha ponte de madeira que ligava a aldeia à escola ruiu logo pela manhã e um dos alunos foi levado pelas águas revoltas do rio. Para surpresa de todos e sobretudo da rapariga afamada pela sua intolerância, foi um dos rapazes novos na escola e que revelava poucas aptidões para os estudos que corajosamente se atirou ao rio e foi salvar o colega. Depois de tudo mais calma, o professor disse:

 

- Olhem… O mais alto nível e o resultado mais sublime da educação é a tolerância. As adversidades que apareceram na vida ensinam-nos a treinar e a praticar a tolerância, a simpatia, o autocontrolo, o autoconhecimento, o respeito, a compreensão e a perseverança. Mas a tolerância não significa aceitar o que se tolera nem abandonar o nosso compromisso com a verdade. A diversidade promove a tolerância e o melhor de encontrarmos pessoas diferentes, é tomarmos consciência de que, apesar de tudo, temos muitas coisas em comum e que a diversidade é a melhor coisa do mundo.

 

Depois do almoço, os alunos brincavam no recreio da escola e a ventania que se fazia sentir fez tombar uma árvore cujos ramos caíram inesperadamente em cima de uma das meninas. Por entre o desespero e o alarido generalizado, foi a rapariga que chegara mais recentemente à escola e que era frequentemente vítima de piadas desagradáveis por ser gordinha que se atreveu a levantar com toda a sua força o ramo da árvore caída, salvando, assim, a colega de uma situação que poderia ter sido fatal. Quando tudo estava mais sereno, o professor disse:

 

- Sabem… eu acho que a  primeira lei da natureza é a tolerância. Das coisas que mais nos caracterizam são os nossos erros, fragilidades e debilidades. Somos pessoas falíveis e errar é humano. A tolerância é garantir aos demais os direitos que nós próprios reivindicamos para nós mesmos. A verdade é que algumas coisas que criticamos nos outros vivem inconscientemente dentro de nós. Não existe ninguém completamente perfeito pois todos temos defeitos e aspetos a melhorar. Mas se olharmos os outros com o coração, perceberemos que todos têm muito mais virtudes e qualidades do que coisas negativas e condenáveis.

 

Ao final da tarde, quando todos regressavam a casa, a rapariga pouco tolerante viu o seu gatinho em cima de uma árvore muito alta e ficou aflita. Com o temporal, fugira de casa e ainda ninguém conseguira convencê-lo a descer, nem mesmo os bombeiros. A verdade é que o outro rapaz que viera recentemente para a escola e era gozado muitas vezes pela Maria por ser de cor negra, subiu como uma flecha pela árvore acima e entregou gentilmente o bichano à colega desesperada.

 

Então, o professor, aproveitou, mais uma vez para reforçar a importância da tolerância:

 

- Reparem que nunca pensaremos todos da mesma maneira e o que cada um de nós consegue ver é apenas uma parte da verdade e nunca seremos capazes de ver a totalidade pois só vemos desde o nosso ponto de vista, ou seja, há ângulos diversos que nós não conseguimos observar. Na convivência entre as pessoas, devido às muitas e ricas diferenças, somente a tolerância permite a harmonia. A convivência saudável depende mais do amor e da tolerância do que da racionalidade.

 

Então, a Maria pediu desculpa a todos e em especial ao rapaz que gozava porque parecia menos inteligente, à rapariga que troçava porque era gordinha e ao rapaz africano a quem marginalizava pela sua cor de pele mais escura. Então, no dia seguinte, todos fizeram uma grande festa e celebraram a tolerância como a regra de ouro da convivência. Tornaram-se pessoas muito respeitadoras de todos e proclamavam frequentemente ‘um por todos e todos por um’ e ‘todos diferentes e todos iguais’.

Paulo Costa

Conto

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