Conto: Quando morrer é desistir de aprender

Conto 15 setembro 2021  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um rapaz muito preguiçoso e que só tinha vontade de brincar e divertir-se com os amigos. Não gostava mesmo nada de andar na escola e, por isso, não se esforçava nos estudos. Os pais não sabiam ler nem escrever, mas faziam muitos sacrifícios para que o filho pudesse ter um futuro melhor do que eles e sabiam bem que na educação residia a chave para uma vida com mais probabilidades de sucesso.

 

Como o rapaz passava a vida a faltar às aulas, a fazer asneiras e não ajudava nada nem em casa nem nas terras dos pais, eles pediram a um ancião que vivia na montanha e tinha fama de ser a pessoa mais sábia da região que acolhesse em sua casa o rapaz durante uns dias para o ajudar a olhar a vida de outra forma.

 

Ao chegar à casa do ancião, o rapaz bateu com o nariz na porta pois ele não estava em casa e isso deixou-o irritado. Quando o ancião chegou, apercebendo-se que ele estava chateado, perguntou-lhe se não lera o papel que deixara na porta e que dizia que tinha ido à horta e que demoraria uma meia hora, mas logo se apercebeu de que ele não sabia ler. Então, disse-lhe pacientemente:

 

- Olha, não há ninguém que seja tão grande e inteligente que não possa aprender alguma coisa, nem tão pequeno e ignorante que também não possa ensinar alguma coisa a alguém. Se não sabemos, devemos aprender, mas se já sabemos, devemos ensinar. A mente nunca se cansa de aprender e não tem medo nem se arrepende de o fazer. Devemos aprender alguma coisa sobre tudo e tudo sobre alguma coisa. Aprender sem pensar é um esforço em vão e um tempo perdido. Desafio-te a aprender.

 

No dia seguinte, o ancião disse ao rapaz que fosse dar um passeio pelas redondezas. Ele foi e, ao ver um rio, decidiu ir nadar um pouco, mas viu uma cobra e teve medo. Quis escrever um aviso para que ninguém fosse para ali pois era perigoso, mas não sabia escrever. Quando contou o sucedido ao ancião, ele lamentou que tenha desperdiçado a oportunidade de aprender a escrever na escola e disse:

 

- Vês, estudar é muito importante. As pessoas que acham que sabem tudo, privam-se de um dos maiores prazeres da vida: aprender. É impossível alguém aprender aquilo que ele acha que já sabe. Na verdade, nós não somos o que sabemos, mas, sim, aquilo que estamos dispostos a aprender. Cada fracasso ensina-nos algumas coisas que precisávamos de aprender. Ainda vais a tempo de ser alguém culto.

 

Então, o rapaz pediu ao ancião que o ensinasse a ler e a escrever pois era a única forma de conhecer o mundo e a vida e a maneira de aprender a relacionar-se com os outros e a dar sentido às coisas. Então, o sábio aceitou, sorriu e disse ao rapaz:

 

- Muito bem. Estou orgulhoso de ti. Estudar é como se estivéssemos a polir uma pedra preciosa que somos nós mesmos. Ao cultivar o nosso espírito, estamos, na verdade, a purificá-lo. É preciso estudar muito para saber um pouco de alguma coisa. Estudar é o caminho para o sucesso. Mais do que perder tempo, estudar é investir tempo naquilo que é verdadeiramente importante. Para adquirir conhecimento, é preciso estudar, mas para alcançar a sabedoria, é necessário observar. Sabes, há duas maneiras de estudar as borboletas: ou perseguimo-las com redes e elas assustam-se e fogem ou sentamo-nos a observá-las nos seus voos joviais, enquanto dançam e pousam nas flores. Por isso, querer aprender é dispor-se a olhar, escutar e refletir a realidade.

 

O rapaz ficou na casa do ancião durante vários meses, aprendeu a ler, a escrever, a dialogar e a pensar a vida e, quando chegou a casa dos pais, disse-lhes:

 

- Como estava enganado em relação à importância do estudo. A escola da vida é importante, mas sem estudar a vida na escola não iremos muito longe. Obrigado por me terem enviado para casa do ancião que mais do que dar-me peixe, ensinou-me a pescar. O saber e o conhecimento não ocupam lugar e são das coisas mais valiosas do mundo. A morte de alguém começa no momento em que desiste de aprender. Quero viver.

 

O rapaz tornou-se o orgulho dos pais e do ancião pois foi a primeira pessoa de toda a região a ter um curso superior e a ser professor na melhor universidade do país.

Paulo Costa

Conto

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