Hoje… a palavra cumpre-se

Liturgia 23 janeiro 2022  •  Tempo de Leitura: 3

“Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura

que acabais de ouvir”.

Lc 4, 21

 

Há uma força extraordinária na palavra “Hoje”. No fundo, é o único tempo que existe, entre o que passa e o que ainda não veio. Tem a força da vida que se oferece, da ocasião favorável, do acolhimento e da dádiva. “Não deixes para amanhã, o… bem, a graça, o amor,… que podes fazer hoje!” É a descoberta do presente e da riqueza com que o Espírito nos inspira tantas palavras e gestos cheios de beleza. Na boca de Jesus em Nazaré, depois de apresentar uma síntese do seu “programa messiânico”, em palavras que realizam aquilo que é dito, tem a força da Palavra de Deus que cria, liberta e salva. Cada cristão, ao longo dos tempos, irá dizer e fazer “hoje” o que a Palavra de Deus anuncia. E por entre as pobrezas, as cegueiras, as prisões e medos, as culpas, os ódios e inimizades, sempre seremos convidados a acolher a Palavra, que é o próprio Cristo em nós e connosco, a fazermos “hoje” o que é mais importante.

 

Mas será que ainda temos amor às palavras? Será que as imagens não absorveram já toda a imaginação e criatividade? Ainda há pais capazes de ler uma história aos seus filhos antes de adormecerem? E filhos que queiram ouvir? Depois de a televisão ter invadido os quartos dos pais e dos filhos e os tablets e smartphones terem ganho lugar à cabeceira, que lugar para as palavras lidas ou escutadas? E são tão diferentes as palavras que ouvimos de alguém, que podemos interromper e abraçar, ou de uma máquina que não admite interferência! Pode o amor às palavras começar cedo na nossa vida, mas só cresce com a leitura e com a coragem da escrita. E não sofre da mesma indiferença a Palavra de Deus?

 

Celebramos hoje o Domingo da Palavra de Deus. Com o convite a voltar sempre à fonte das Escrituras e descobrir como elas nos abrem horizontes luminosos. Em plena Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. É verdade que a história fala das inúmeras divisões, justificadas por palavras ditas, não ditas e mal-ditas, mas não tinha começado tudo na mente e no coração de quem se julgava melhor e maior, dono da verdade e “quase” dono da terra e dos céus? Quase sempre o pensar e o diálogo saem derrotados quando deixamos de procurar. Quando o silêncio deixa de ser o terreno fecundo onde germinam as sementes, para ser o deserto da indiferença ou da exclusão. Acredito na força criadora das palavras se estamos disponíveis para fazer pontes, se estamos sedentos de luz, se aceitamos voar acima das muralhas que parecem proteger, mas só aprisionam!

 

“Hoje” é o dia sempre novo para cumprir a palavra. Para lhe dar vida, realizando o que parecia impossível. Para salvar do passado o melhor, e não deixar para o futuro a beleza que pede para “nascer”.

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