O primeiro encontro

Liturgia 17 janeiro 2021  •  Tempo de Leitura: 4

DOMINGO II COMUM Ano B

“Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam,

disse-lhes: «Que procurais?»”.

Jo 1, 37

 

 

Os primeiros olhares, as primeiras impressões, as primeiras palavras. Conhecemos a sua importância. Para o bem e para o mal ficam gravadas na memória e podem ser pontes ou muros. Abrem-nos para o desejo de conhecer e ir mais além, ou sentimos vontade de ir por outro caminho. Por vezes enganamo-nos, e os juízos apressados fazem-nos perder a possibilidade de encontrar tesouros. Não foi isso que aconteceu com os que iriam ser os primeiros discípulos de Jesus.

 

Tudo começou pelo anúncio de João: “Eis o Cordeiro de Deus”. Palavra que em aramaico significa também “servo”, “filho” e “pão”. Admirável apresentação de Jesus! Parado, do outro lado do rio, como quem termina a missão, ele apresenta aquele que caminha, com o convite a segui-l’O. De olhos fitos em Jesus, com o coração a bater apressadamente, eles seguem Jesus, imaginando o que irá fazer, ou pensar. “Que procurais?” pergunta-lhes Jesus, de rosto voltado para eles. A força das primeiras palavras no evangelho de João ecoa no espaço e no tempo. Chega a mim, a todos nós. Sim, eis a pergunta fundamental: o que procuramos? E André e João respondem por nós: “Onde moras?”. Querem dizer: gostávamos de ficar um pouco contigo, conhecer-Te!  E foram, e ficaram. Três atitudes essenciais: procurar, seguir, ficar. O que disseram? Falaram das suas vidas, dos seus desejos e perguntas? E Jesus, falou-lhes dos seus projectos, dos seus íntimos desejos? De que falamos e de que nos fala Jesus quando passamos com Ele o resto do dia?

 

A aventura divina acontece nas relações humanas. André e João tinham laços de amizade, trabalhavam como pescadores no mesmo lago, tinham um mesmo ideal como discípulos de João Baptista. André vai falar de Jesus a Simão, seu irmão. A força do testemunho não está sobretudo em palavras, mas no convite a fazer uma experiência, que pode comprometer a vida. A vocação acontece nestes laços humanos, e nas relações propaga-se um encontro com Jesus. É como a experiência de “cativar”, e que bem a escreveu Saint-Exupéry no seu (e nosso) “O Principezinho”: cativar “significa criar laços”. No encontro com Pedro, Jesus muda-lhe o nome, confia-lhe uma missão: ser rochedo firme, e também casa acolhedora e protectora. A vocação implica sempre uma missão. Que encarna e se fortalece nas nossas relações humanas. Não é por acaso que nos encontramos e conhecemos, pois em todos se joga o desejo de Deus.

 

Ao falar do processo de evangelização, o novo Directório para a Catequese, entre muitos outros pontos, diz que a Igreja “faz-se próxima de todos com atitudes de solidariedade, partilha e diálogo, dando assim testemunho da novidade de vida dos cristãos, para que todos aqueles que os encontram sejam provocados a interrogar-se acerca do sentido da existência e das razões da sua fraternidade e esperança” (n.31). Como vivemos cada encontro com o encanto do primeiro?

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