No meio de vós

Liturgia 13 dezembro 2020  •  Tempo de Leitura: 4

DOMINGO III DO ADVENTO Ano B 

“No meio de vós está Alguém que não conheceis.” 

Mc 1, 27

 

Se é verdade que João Baptista não seria um imediato exemplo de alegria pela austeridade da sua vida e a força interpeladora das suas palavras, importa lembrar o salto de felicidade que deu no seio de sua mãe, Isabel. Aí ele foi a humanidade inteira a alegrar-se com a vinda do Salvador, por dentro da nossa carne. É por dentro de nós que as verdadeiras alegrias acontecem, como uma germinação interior. Pois é sempre do interior que o Verbo incarnado actua, na nossa condição e com os nossos limites. A alegria de João Baptista é a de que Cristo cresça e ele diminua, que ele fique na margem e Cristo no meio e dentro de nós. E aí, verdadeiramente acessível a todos, fazer a transformação do nosso mundo.

 

O que esperamos verdadeiramente deste Natal? A graça de um renovamento na nossa relação com Deus e com os outros, de um recomeço iluminado pela experiência e pela descoberta do seu amor, ou que seja “mágico”, e conforte e tranquilize nos nossos desejos de ter e parecer? Por isso o desejo de ser igualzinho aos anos anteriores, quando a urgência de conter a pandemia nos pede que seja diferente. Queremos a mudança por fora sem assumir a mudança por dentro? Até que ponto não continua no meio de nós “Aquele que não conhecemos”? João Baptista desvia de si as atenções, dos títulos que lhe poderiam atribuir: ele “não é” o Messias, nem Elias, nem o Profeta, nem a Luz de que é reflexo. É simplesmente Voz, conjunto de sons para que a Palavra que é Cristo chegue a todos. Em que vozes chegou até nós o conhecimento de Jesus? E pela nossa voz, chegará a alguém?   

 

Corro agora o risco daquele pregador que em sermão da quaresma sobre a confissão, em dia de S. José, começava assim: “S. José era carpinteiro… Fazia móveis de madeira… De madeira são os confessionários… Terá feito algum… Falemos da confissão!” Vem S. José a propósito pela Carta Apóstólica “Patris Corde”, do Papa Francisco, por ocasião do 150.º aniversário da declaração de S. José como padroeiro da Igreja universal. E se João Baptista é Voz, de S. José não nos chegou nenhuma palavra. Mas os relatos de Mateus e Lucas revelam-nos imensos gestos que nos ajudam a compreender a sua paternidade e a sua missão. Revela-se também o coração do Papa Francisco que deseja que aumentemos “o amor por este grande santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo.” Partilha connosco uma oração a S. José que faz, diariamente, há mais de quarenta anos.

 

Nas características do “coração de pai” que o Papa Francisco nos apresenta em S. José podemos assumir também a paternidade que é “a responsabilidade pela vida de outrem”. Como Jesus recebeu de José, somos convidados a redescobrir a ternura de Deus, a alegria da obediência, a humildade do acolhimento, a coragem criativa, o valor do trabalho, e a confiança de ficar na sombra. Para conheceremos melhor Aquele que está no meio de nós, no rosto de pais, irmãos e amigos!

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