A surpresa final

Liturgia 22 novembro 2020  •  Tempo de Leitura: 3

DOMINGO XXXIV COMUM

CRISTO REI 

“‘Quantas vezes o fizestes 

a um dos meus irmãos mais pequeninos,

a Mim o fizestes’.”

Mt 25, 40

 

 

 

Se nos fosse pedido uma síntese do Evangelho, de toda a Boa Nova de Jesus, o que diríamos? Certamente escolheríamos as Bem-aventuranças, ou o seu Mandamento novo, a Páscoa, e a Última (primeira) Ceia. No fundo, em cada gesto e palavra de Jesus encontramos a totalidade do amor de Deus a chegar até nós. E há 20 séculos que nós, cristãos, falamos do amor. Mas o decisivo não é simplesmente dizer e pensar, acreditar ou escrever. Não podemos ficar satisfeitos e tranquilos porque não fazemos a ninguém nenhum mal especialmente grave.

 

A terceira parábola de Mateus 25 mostra como a realeza de Jesus é desconcertante. Ao contrário dos reis humanos, que se distinguem dos súbditos e do povo, este rei identifica-se com os mais pequenos. É inútil procurar o Ressuscitado nas nuvens, no grandioso, pois a sua presença revela-se nos mais pobres, nos necessitados. É a compaixão concreta, a decisão em não deixar no mal e no sofrimento aqueles que não são estranhos mas irmãos, e é preciso cuidar e salvar. A fé cristã é mística e prática, secreta e visível, interior e eficaz. Não se pretende substituir a nenhum poder público, a nenhum governo, mas assume compromissos por cada homem e mulher concretos que necessitam sair do sofrimento. Porque nenhum sofrimento nos pode ser alheio, e a compaixão é o único modo de nos parecermos com Deus.

 

À semelhança das virgens insensatas, que não fizeram nada de mal mas não se precaveram com o azeite da alegria para o encontro com o esposo, e do servo que por medo e preguiça escondeu o talento e não o quis multiplicar, também ficarão surpreendidos aqueles que viram tantos sofredores e nada fizeram por eles. O pior é não fazer nada! Os que os aliviaram do sofrimento fizeram-no voluntariamente. Também não viram nem reconheceram Jesus neles. Agiram gratuitamente, sem ganhar dinheiro nem esperar recompensa. Encheram-se de compaixão e deixaram-se mover pelo amor. Dizia Leon Tolstoi: “Podem cortar-se árvores, fabricar tijolos e forjar ferro sem amor. Mas é preciso tratar com amor os seres humanos. Se não sentes afecto pelos homens, ocupa-te no que quiseres, mas não neles.”

 

A maior surpresa é essa: quando abandonamos um necessitado, abandonamos Deus, quando o aliviamos, é a Deus que aliviamos. São os gestos concretos, possíveis, ao nosso alcance que marcam a diferença. Diziam dois pobres à porta de uma igreja: “Falam tanto de nós, mas não vêm falar connosco!” Jesus pede-nos para não duvidarmos dos milagres que os mais pequenos gestos de amor a quem sofre, podem realizar.

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