Uma restauração divina

Liturgia 2 fevereiro 2020  •  Tempo de Leitura: 2

O desejo de felicidade inscrito no coração do homem é, acima de tudo, uma inquietação divina que não cessa de nos interpelar. Para alcançar este bem último, é necessária uma boa dose de apurada capacidade de discernimento para descortinar as razões últimas da existência humana.

 

S. Tomás de Aquino refere-se à procura incessante do espírito humano através de um persistente desejo insatisfeito que nos aproxima da causa primeira, Deus. Assim, para o santo e sábio a última bem-aventurança, a felicidade, consiste na visão da essência divina. É na união com Ele que o homem encontra a sua verdadeira felicidade.

 

A felicidade provisória, no entanto, vendida ao desbarato nos hipermercados deste mundo, apregoada nos púlpitos da TV, publicitada como alimento substancial, tem apenas o dom de entreter o espírito humano, desviando-o do fim último.

 

De tempos a tempos, no entanto, sentimos que tudo isto não faz sentido. De tempos a tempos, de repente, ao final de um dia qualquer, percebemos que caminhamos por uma estrada sem saída, vemos claramente que fomos enganados e envelhecemos a lutar pelo que não satisfaz. Nesse instante, diante do espelho, dificilmente nos reconhecemos num rosto deformado. Nesse dia, talvez baixemos os braços e digamos: «Não tenho outro remédio senão viver assim…», ou, em alternativa, dizemos, como se fosse uma novidade absoluta: «Eu posso mudar. Eu preciso de ser restaurado».

 

Assim como os especialistas restauram uma obra de arte danificada, procuramos alguém que cuide de nós, que nos ajude a recuperar as cores originais, o encanto primeiro, alguém que ponha sobre a mesa o mapa de uma vida com sentido. Descobrimos, então, exemplos como o de S. Paulo, e deixamos que as suas palavras sobre a via da perfeição na caridade ressoem em nós. Redescobrimos outro especialista da arte de ser feliz como S. Tomás, o monge da Idade Média, que ainda hoje nos diz tanto. Descobrimos que Deus não nos obriga a nada, mas antes nos estimula a assumir tudo porque reaviva em nós as mais profundas aspirações.

 

E o modelo perfeito está diante de nós: Jesus. Esse dia pode ser hoje.

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