Que estrela nos guia?

Liturgia 6 janeiro 2019  •  Tempo de Leitura: 3

EPIFANIA DO SENHOR Ano C

“Nós vimos a sua estrela no Oriente

e viemos adorá-l’O.”

Mt 2, 2

 

 

São modelo para quem explora e quem busca os magos que foram a Belém. Homens de olhares erguidos aos céus, desejosos de conhecer os mistérios da vida. Não se prenderam a amarras e partiram, simplesmente porque uma estrela os convidava a ir. Não eram solitários e nem desistiram de fazer perguntas que lhe podia dar a morte. Interpelam todas as procuras humanas, e fazem-nos pensar que estrelas nos convidam a sair de prisões ou de condomínios que nos adormecem e atrofiam. Nas diferenças com que as tradições os vestiram, aprendemos como a verdade só se descobre se nos abrirmos aos outros, que podem não pensar nem viver como nós, mas também procuram mais luz, com honestidade e sem mentira. As divisões, os grupos fechados, os “clubes de fé ou de ciência” impedem de nos pormos a caminho: em vez de ir adorar o Menino, adoramo-nos a nós próprios!

 

A pergunta dos magos sobressaltou Herodes e os escribas, o poder político e o religioso sempre tentadoramente unidos. Eles até conheciam a resposta, mas foram incapazes de assumir um compromisso. Tiveram medo de perder o poder, de deixar de dominar o povo pela força e pelos ritos e sacrifícios. É a tentação política de deixar de servir o povo para servir as castas governantes. Não alerta para esse perigo o Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano? Partilho dela uma citação do Cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002 que escreveu “as bem-aventuranças do político”: Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel; de cuja pessoa irradia a credibilidade; que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses; que permanece fielmente coerente; que realiza a unidade; que está comprometido na realização duma mudança radical; que sabe escutar; que não tem medo” (texto adaptado).

 

Os magos convidam a sair e a deixar outros entrar. Invertem as noções de fora e de dentro. Fazem o distante próximo e alargam os horizontes da salvação. Ensinam a ler sinais que nos levam às alegrias surpreendentes que Deus gosta de oferecer. Com eles aprendemos a grandeza de adorar, a alegria de caminhar juntos, a inteligência de ler os sinais, a esperança de procurar, o poder do que é fraco, a riqueza do que é pobre, a sabedoria de caminhos novos. Todos somos chamados a ser um pouco como eles. Na nossa procura, nos nossos desânimos, nas perguntas e na leitura dos sinais e da Palavra de Deus, na adoração de Jesus e nos caminhos novos que se abrem a seguir. E nem é preciso ir longe, como Sophia de Melo Breyner Andresen descreveu num poema: “[…] Ao lado do hospital e da prisão / Entre o agiota e o templo profanado / Onde a rua é mais triste e mais sozinha / E onde tudo parece abandonado / Um lugar pela estrela foi marcado // Nesse lugar pensei: «Quanto deserto / Atravessei para encontrar aquilo / Que morava entre os homens e tão perto»”.

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