AIS: Massacre no Natal

Notícias 25 janeiro 2024  •  Tempo de Leitura: 7

Quase duas centenas de cristãos foram “sumariamente mortos” por militantes fulani que atacaram 26 aldeias no estado de Plateau, no centro da Nigéria, entre os dias 23 e 26 de Dezembro. Casas e colheitas foram destruídas, as igrejas e os centros de saúde incendiados. Aos poucos, vão-se conhecendo os pormenores deste verdadeiro massacre de Natal.

 

O Pe. Andrew Dewan é o responsável da comunicação da Diocese de Pankshin, situada no estado de Plateau, na região centro da Nigéria, e tinha celebrado a Missa de Natal em Tudun Mazat poucas horas antes de homens armados terem irrompido pelas ruas aos tiros, matando indiscriminadamente quem por ali se encontrasse. Foi tudo muito rápido. Os habitantes da aldeia, conta-nos o sacerdote, nem tiveram tempo para dar o alarme. “Os atacantes invadiram a comunidade ao fim da tarde, precisamente na altura em que a maioria das pessoas estava a jantar e as que já tinham terminado estavam a visitar amigos. Antes que as pessoas pudessem dar o alarme, os bandidos já estavam em cima delas. As pessoas foram sumariamente baleadas e mortas, as casas e o milho que tinha sido colhido foram incendiados, as igrejas e as clínicas também foram incendiadas”, descreve o Pe. Andrew à Fundação AIS Internacional. Foi assim em Tudun Mazat e foi assim em mais de duas dezenas de aldeias. Entre os dias 23 e 26 de Dezembro, estas comunidades foram surpreendidas quando se preparavam para a celebração do Natal.

Ataques coordenados e deliberados

“De Tudun Mazat, os terroristas fulani desceram sobre Maiyanga, matando 13 pessoas. Cerca de 20 outras comunidades foram atacadas nessa noite”, explica o sacerdote. A primeira aldeia a ser varrida pelos Fulanis foi Mushu. Ainda era de noite. Pelo menos 18 pessoas foram aí assassinadas e várias ficaram feridas. Para o Pe. Andrew, que vive nesta região, não há dúvidas sobre a identidade dos atacantes nem sobre o alvo da violência. Foram ataques “bem coordenados e deliberados, visando especificamente comunidades cristãs”. O depoimento deste sacerdote é muito relevante. Ele vive na região, conhece estas aldeias e já falou com algumas das pessoas que sobreviveram aos ataques. “Todos foram categóricos em afirmar que se trata claramente de milícias fulani, ou de mercenários, como alguns relatos também alegaram.” A certeza das palavras do Pe. Andrew radica no facto de os atacantes terem escolhido os alvos quase casa a casa, pessoa a pessoa. “Nas comunidades onde os Cristãos vivem lado a lado com os Fulanis, não foi afectada nenhuma pessoa fulani e nenhuma casa fulani foi queimada, pelo que não há dúvida de que os atacantes eram fulani”, disse à Fundação AIS.

 

Conflito religioso e sentimento de revolta

 

Os pastores muçulmanos fulani são originários da região do Sahel, que em tempos foi habitável e tinha pastagens para os criadores de gado, mas que agora é praticamente um deserto, o que os levou a deslocarem-se cada vez mais para sul, para pastagens mais verdes. É nesta zona conhecida como cintura central que se registam estes ataques dos pastores fulani, procurando obter terras sem restrições e expulsando assim os habitantes locais que são maioritariamente cristãos. Para o responsável da comunicação da Diocese de Pankshin, o facto do ataque a estas aldeias ter ocorrido no Natal mostra também que este é um conflito religioso. “Este ataque prova que se trata claramente de um conflito religioso. O facto de ter ocorrido no Natal e o facto de visar deliberadamente os Cristãos numa comunidade mista, onde os Muçulmanos não são atacados, tem claramente todas as características de um conflito religioso. Sei que nem toda a gente gostaria de o admitir, mas, para mim, que estive no terreno a observar e a escrever sobre o assunto, tem as marcas de um conflito religioso.”

 

“Os santos inocentes” do séc. XXI

 

A presidente executiva internacional da Fundação AIS, Regina Lynch, denunciou logo este novo episódio de violência contra os Cristãos na Nigéria e recordou que o ano de 2023 foi particularmente dramático para esta comunidade religiosa. “O ano começou com o assassinato brutal do Pe. Isaac Achi, a 15 de Janeiro [queimado vivo num ataque à sua paróquia, Kafin-Koro, na Diocese de Minna], e terminou com a morte sem sentido de mais de 160 cristãos. Inúmeros outros perderam a vida devido à violência ao longo do ano. Apelamos ao Governo para que enfrente finalmente este problema e garanta a segurança dos seus cidadãos, e pedimos aos nossos amigos e benfeitores que continuem a rezar pela Nigéria, tal como nós nos comprometemos a continuar a ajudar da forma que pudermos”, afirmou. Para Regina Lynch, “os nossos irmãos e irmãs cristãos na Nigéria e noutros países do mundo são os ‘santos inocentes’ do séc. XXI”. “Estamos confiantes de que o seu sangue derramado como seguidores de Jesus será a semente de novos cristãos”, acrescentou. A Nigéria é um país prioritário para a Fundação AIS. Além dos terríveis conflitos causados pelos pastores nómadas fulani, os Cristãos são vítimas também, especialmente no norte do país, de ataques por parte dos terroristas do Boko Haram e do grupo Estado Islâmico da África Ocidental. Além da ajuda que é dada às comunidades cristãs, é importante também para a fundação pontifícia a sensibilização da opinião pública para esta situação que praticamente tem sido ignorada pela Comunicação Social. O ataque às 26 aldeias cristãs no estado de Plateau é também um exemplo do silêncio quase criminoso que se está a verificar. Houve quase 200 mortos e cerca de 300 feridos. Casas e colheitas foram destruídas, igrejas e centros de saúde incendiados. No entanto, nas rádios, nas televisões e nos jornais não houve uma linha sequer para isto, não se gastou um segundo a denunciar o que aconteceu. Duzentos cristãos mortos na Nigéria e não é notícia…. É por isso também que existe a Fundação AIS…

Fundação de direito pontifício, a AIS ajuda os cristãos perseguidos e necessitados.

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