O amor e o mês das almas

Crónicas 11 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 6

O mês de Novembro é conhecido como o mês das almas. É um mês que nos faz parar… recordar… e continuar. É o tempo propício para fazermos uma viagem ao interior de nós mesmos, e reconhecermos o quanto dêmos, fizemos, amamos. Recordamos rostos e nomes, lembramos momentos únicos, especiais, cheios do encanto que só as verdadeiras relações produzem. Muitas das nossas lágrimas, nestes momentos de recordação do amor vivido, são de gratidão.

 

O que realmente nos leva a fazer memória é o reconhecimento do que os “outros” deixaram em nós. “Outros” que são recordados e referidos com todo o entusiasmo, porque ajudaram a escrever belas palavras da nossa história no Coração de Jesus. Os olhos brilham quando falamos desses colaboradores da nossa vida, o coração pulsa com mais intensidade, porque o Amor não findou… no Amor não há pontos finais. Porque do Céu, aqueles que amamos e que nos amam continuam a cuidar de nós.

 

Sim, porque a vida é um eterno cuidado do “outro” que vem, muitas vezes, sem avisar. Não tenhamos medo de recordar o porquê, as circunstâncias e o instante em que Deus colocou a “alma” amada na nossa vida. Porque a resposta resume-se a uma palavra: Amor. Uma palavra que pode ser lida em vários sentidos, mas que por excelência exprime o acolhimento de alguém na nossa vida. Alguém que traz algo de novo, que nos apresenta novas propostas para crescer no amor… Deus oferece-nos pessoas concretas, e a cada uma quer que amemos de um jeito próprio porque as almas são todas diferentes… cada pessoa é única e pertence-nos, completa-nos.

 

Estremecemos de gratidão quando recordamos aquela pessoa que nos fez sorrir; com quem partilhamos gargalhadas, que só a nossa história conhece; que apertou as nossas mãos com toda a força, para nos tirar dos instantes mais sombrios da nossa vida; que tocou o nosso rosto com a delicadeza de um anjo para enxugar as lágrimas que escorriam pela nossa face nos momentos de incompreensão, de humilhação, de solidão; que era a nossa companhia no local de trabalho, nas salas de aula, no café de sábado à noite, nas idas ao cinema... Quando paramos um pouco e recordamos os tempos idos, perguntamos: «Porque é que ele(a) era tão importante para mim?». O silêncio, por norma, é a “primeira palavra” da resposta de alguém que viveu inteiramente para o “outro” esquecendo-se do “eu”.

 

Do banquete Celeste com Deus, os seus Anjos e Santos são tantos os amigos que continuam a sorrir e a estar ao nosso lado na dor de uma forma invisível, mas poderosa. Contudo, Deus envia-nos presentes constantes, ou seja, novas “almas”, porque o amor é eterno; e a nossa história continua. O amor pelas almas que se entrelaçam na nossa história é tantas vezes difícil de descrever, porque não podemos olhar para a nossa vida apenas humanamente. Temos de saber ler as páginas da nossa história com os olhos da fé. A “alma” amada pode questionar-se: «Porque sou amado?», mas a “alma” amante também se interroga: «Como é que eu fui capaz de…?». A beleza do amor pelas “almas” coloca em interrogação constante ambas as partes, porque, por vezes sem darem conta, amam, ajudam a crescer no caminho da perfeição, tornam-se uma da outra. Quando nos apercebemos, a confiança tomou conta de nós e já depositamos a história da nossa alma, que ainda tem algumas páginas em branco, nas mãos de outra “alma”.

 

No entanto, o Amor com que nos entregamos às “almas” que Deus coloca no nosso caminho nem sempre é bem compreendido… aqueles que nos observam nem sempre alcançam o esboço de eternidade traçado em cada gesto. Um esboço que nos permite descobrir: a grandeza da gratuitidade, a beleza do esquecimento de nós mesmos, o grito de Jesus “tenho sede” de amor! É a forma como agimos ao jeito de Jesus que nos permite distinguir aquilo que fazemos por ser rotineiro do que fazemos por paixão. O amor não é rotina, não está agendado nem programado. O amor não nos torna espectadores de uma história, mas sim atores. O amor é espontâneo, surge naquele instante em que caminhamos na rua e contemplando um rosto triste sorrimos; propaga-se quando sabes que alguém, mais do que belas palavras, precisa de uma oração para que Deus apazigue o seu coração. O amor é um presente que se vive no presente, em cada instante concreto, e que tem em vista o Céu, a salvação das almas. Porém, é neste mundo que experimentamos a alegria e a esperança do presente eterno do Amor.

 

 

           

           

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