E tu, Jesus, o que farias?

Crónicas 20 janeiro 2023  •  Tempo de Leitura: 3

Esta semana, falava com um colega sobre a diversidade da Igreja Católica e das posições que temos encontrado na mesma. Mostrávamos, mutuamente, a preocupação com a falta de equilíbrio no pensamento e no posicionamento teológico ou doutrinal. Refletíamos que facilmente encontramos ou conservadores tradicionalistas, ou progressistas liberais. E foi interessante, nesta nossa conversa, não termos encontrado a necessidade de nos colocarmos em nenhum destes rótulos, apesar de divergirmos em quase todos os temas que abordamos, como por exemplo: a vivência da sexualidade, a vivência da fé por pessoas homossexuais, a aceitação da diferença, a celebração da Eucaristia, entre outros.

 

E, durante toda a nossa argumentação e partilha de ideias, acabamos por encontrar dois pontos em comum: primeiro, a admiração e o amor a Jesus Cristo e, em segundo, a utilização da questão: “E tu, Jesus, o que farias?” para tentarmos refletir sobre aquilo que tantas vezes parece complexo aos nossos olhos.

 

Por isso, esta semana, o que vos escrevo é exatamente aquilo que lhe questionava: será que nós, enquanto Igreja, fazemos esta pergunta perante a dor de tantos e tantas? Será que nós, enquanto seguidores de Jesus Cristo, fazemos esta pergunta perante aqueles e aquelas que se sentem excluídos e indignos do amor de Deus? Será que nós, enquanto discípulos, fazemos esta pergunta quando receamos o desconhecido e a diferença? Será que nós, enquanto Igreja Universal, fazemos esta pergunta quando não temos respostas?

 

A beleza da Igreja, nos tempos de hoje, não passará pela oferta de um novo paradigma ou de uma proposta inovadora. A beleza da Igreja do futuro passará pela sabedoria de sabermos viver com a multiplicidade e a complexidade do ser humano. A Igreja pode e deve ser espaço que testemunha a possibilidade de se viver em verdadeira comunidade. Como? Questionando para tudo e a toda a hora: “E tu, Jesus, o que farias?”. Sem cairmos em extremismos. Sem usarmos a desculpa do “sempre foi assim”. Sem criarmos divisões. Sem nos fundamentarmos unicamente na doutrina, mas permitirmos que o Espírito Santo sopre, em nós, a certeza de que cabemos todos e todas.

 

Acredito que, se quisermos estar mais próximos do Reino apresentado por Jesus, teremos de saber dialogar, acolher e integrar no amor e com amor. Inclusive (e diria até, principalmente estes) aqueles de quem não gostamos ou não achamos tanta piada às suas vidas.

 

“E tu, Jesus, o que farias?”, talvez seja esta a pergunta capaz de unir uma Igreja que parece dispersa e com falta de comunicação. Talvez esta seja a pergunta capaz de nos lembrar que o que nos une é o mesmo Jesus, o Nazareno que deu sentido às nossas vidas e que viveu obcecado em erguer todos e todas.

Nasceu em 1994. Mestre em Psicologia da Educação e do Desenvolvimento Humano. Psicólogo no Gabinete de Atendimento e Apoio ao Estudante e Coordenador da Pastoral Universitária da Escola Superior de Saúde de Santa Maria. Autor da página ©️Pray to Love, onde desbrava um caminho de encontro consigo mesmo, com o outro e com Deus.

 

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail