Mãe e filhos

Fátima 4 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 2

«Maria tornou-se a mãe dos nossos medos, das nossas resignações, a mãe dos marinheiros ameaçados pelo naufrágio, dos viajantes perdidos nas montanhas, dos soldados que perdem sangue, dos filhos que já não têm mãe, das mães que já não têm filhos, dos homens sem casa nem pão nem Deus.»

A tradição em Portugal cruza maio com Maria e o primeiro domingo do mês com o de todas as mães. As devoções cristãs à Virgem, essas, podem por vezes deslizar para formas sentimentais, que no entanto contêm muitas vezes um núcleo forte de espiritualidade e humanidade.

O excerto que se apresenta acima, extraído do livro "Quem é aquele que vem?", publicado em 1953 pelo escritor italiano Luigi Santucci, colhe uma dimensão significativa da devoção mariana que não raramente permanece como traço indelével mesmo no coração de quem abandonou totalmente a fé da infância.

Será a sua maternidade ou a sua feminilidade, a sua pureza ou o seu sofrimento (a cena aos pés da cruz é de partir o coração, ainda que não se registe qualquer lágrima de Maria), será a sua quotidianidade ou a escolha divina que sobre ela recaiu para cumprir um mistério maior que ela, o que é facto é que nos momentos mais sombrios, marcados pelo medo, perigos, tragédia ou doenças, é espontâneo invocá-la.

Nela se encontra o caminho aberto para aquele Deus omnipotente que, porém, quase não se ousa incomodar diretamente. Compreende-se, então, porque é que a devoção mariana é, por um lado, autenticamente cristã, porque nos conduz ao seu Filho, e, por outro, seja profundamente humana, porque nos faz regressar como filhos, na simplicidade do abandono confiante e sereno.
 

[Card. Gianfranco Ravasi | Presidente do Conselho Pontifício da Cultura | In "Avvenire"]

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