O pseudónimo de Deus

Razões para Acreditar 16 setembro 2017  •  Tempo de Leitura: 1

Se pensássemos em todas as boas fortunas que tivemos sem merecer, não ousaríamos lamentar-nos. «O acaso é o pseudónimo de Deus quando não se assina pessoalmente.» A dizer isto era um escritor francês não particularmente religioso, Anatole France.

 

A sublinhar a ideia, mas de outra perspetiva, estava o seu conterrâneo e contemporâneo (séc. XIX) Jules Renard. Ele fala sobretudo de "fortuna" que rege muitos momentos da nossa vida, mas não ousa explicitar o nome subentendido, Deus.

 

Se numa ideal dupla partida objetiva devêssemos, com rigor, elencar bens e males da nossa vida, estaríamos certos de ter direito àquela lengalenga inexorável de lamentos que trocamos quando nos encontramos? É fácil assinalar as provas porque se infligem na alma e na carne; os dons e as alegrias são, ao contrário, como água que escorre numa pedra.

 

Procuremos, então, exercitar-nos a cada dia a dizer pelo menos uma graça, e não só a Deus, mas também a todos aqueles que nos reservam um gesto de cordialidade, uma ajuda, uma palavra calorosa.

 

Experimentemos recordar um acontecimento grande da nossa vida que nos foi dado e que talvez tivéssemos arquivado. Tentemos também colher o valor dos favores que consideramos óbvios e dados como adquiridos: o ar, a água, a beleza do mundo, as amizades, e assim por diante.

 

Longa é a lista "branca" a juntar àquela "negra" das amarguras. Aristóteles, narra Diógenes Laércio, interrogado «sobre o que é que envelhece e morre depressa», respondeu, lapidar: «A gratidão».

 

[Card. Gianfranco Ravasi | "Avvenire"]

tags: Gratidão

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