O Dia da ESPIGA

Liturgia 25 maio 2017  •  Tempo de Leitura: 3

40 dias depois da Páscoa – entre a tradição popular e o religioso pagão. O Dia da espiga é uma celebração popular portuguesa. Antiga.
 

Quando eu era miúda, (onde isso já vai!) em casa de meus pais e avós, tios, primos (o clã) cumpria-se a tradição que mandava que em dia de Quinta-feira da Ascensão, 40 dias depois da Páscoa, os amigos, os vizinhos, as famílias, se juntassem em grupos e, num saboroso e saudável passeio matinal, colhessem espigas de vários cereais, flores campestres, raminhos de oliveira e de videira para formar um ramo que depois se guardava “religiosamente” – o “ramo da espiga” - que devia ser colocado por detrás da porta de entrada, e só devia ser substituído por um novo no dia da espiga do ano seguinte. E em dias de trovoadas queimava-se um pouco desse ramo no fogo da lareira para afastar os raios.(!?)
 
Talvez esta celebração primaveril seja uma das muitas reminiscências das antigas tradições pagãs e esteja ligada à tradição dos Maios e das Maias.
 
O dia da espiga era também o "dia da hora" e considerado "o dia mais santo do ano” (!) - um dia em que não se devia trabalhar (num tempo em que, na agricultura, ainda se trabalhava de sol a sol, isto era uma Boa notícia). Era chamado o dia da hora porque, diziam, havia uma hora, o meio-dia, em que tudo parava, "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda, as flores não se cruzam…". Era durante essa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga e as ervas que se punham a secar para depois fazer chás, infusões e mezinhas… Era um tempo sem Serviço Nacional de Saúde…
 
(Temo que, mais dia menos dia, muita gente vá ter que voltar às mezinhas caseiras como única possibilidade de medicina preventiva, curativa ou paliativa.
 

Que o digam os milhares de pessoas que hoje vivem alguma das várias periferias que a ganância de alguns poucos vai criando…)
 
 
Às várias plantas que compõem o ramo da espiga era dado um significado e um valor simbólico, profano e religioso, que não diz mais que os nossos mais simples e naturais desejos:
 

Espiga – O pão que mata a fome e nos faz Livres;
Malmequer – O ouro e a prata, o dinheiro, que tantas vezes nos encandeiam;
Papoila – O Amor que é vida e nos faz SER Gente entre Gente, com Gente;
Oliveira – A luz que anuncia o DIA. Uma Boa Notícia de Esperança;
Videira – O vinho da Alegria e da Festa;
Alecrim – A Saúde, a Sabedoria, a Fortaleza do Espírito.

 
[Por Glória Marques | ©Derrotar Montanhas]

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