«É esta a festa que agrada a Deus? Que Natal gostaria?», pergunta papa

Vaticano 20 dezembro 2018  •  Tempo de Leitura: 6

Daqui a seis dias será Natal. As árvores, os ornamentos e as luzes em todo o lado recordam que também este ano haverá festa. A máquina publicitária convida à troca de presentes sempre novos para fazer surpresa. Mas pergunto-me: é esta a festa que agrada a Deus? Que Natal gostaria Ele, que presentes e surpresas?

 

Olhemos para o primeiro Natal da história para descobrir os gostos de Deus. Esse primeiro Natal da história foi repleto de surpresas. Começa-se com Maria, que era noiva de José: chega o anjo e muda-lhe a vida. De virgem será mãe.

 

Prossegue com José, chamado a ser pai de um filho sem o gerar. Um filho que – golpe de cena – chega no momento menos indicado, isto é, quando Maria e José eram noivos, e segundo a Lei não podiam coabitar. Diante do escândalo, o bom senso do tempo convidava José a repudiar Maria e salvar o seu bom nome, mas ele, apesar do direito que tinha, surpreende: para não prejudicar Maria, pensa repudiá-la em segredo, com o custo de perder a reputação. Depois, outra surpresa: Deus, em sonhos, muda-lhe os planos e pede-lhe para tomar consigo Maria. Nascido Jesus, quando tinha os seus projetos para a família, igualmente em sonho é-lhe dito para se erguer e ir para o Egito.

 

Em resumo, o Natal traz mudanças de vida inesperadas (…). Mas é na noite de Natal que chega a surpresa: o Altíssimo é um pequenino bebé. A Palavra divina é um infante, que literalmente significa “incapaz de falar”. (…) A acolher o Salvador não estão as autoridades do tempo (…), mas simples pastores que, surpreendidos pelos anjos enquanto trabalhavam de noite, acorrem sem demora. Quem esperaria que assim fosse?

 

Natal é celebrar o inédito de Deus, ou melhor, um Deus inédito, que vira do avesso as nossas lógicas e as nossas expetativas.

 

Fazer Natal, então, é acolher na Terra as surpresas do Céu. Não se pode viver “terra a terra” quando o Céu trouxe a sua novidade ao mundo. O Natal inaugura um tempo novo, onde a vida não se programa, mas dá-se; onde já não se vive para si, com base nos próprios gostos, mas para Deus; e com Deus, porque desde o Natal Deus é o Deus-connosco.

 

Viver o Natal é deixar-se sacudir pela sua surpreendente novidade. O Natal de Jesus não oferece os reconfortantes calores da lareira, mas o frémito divino que sacode a história. O Natal é a desforra da humildade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre o barulho, da oração sobre o “meu tempo”, de Deus sobre o meu eu.

 

Fazer Natal é fazer como Jesus, vindo para nós, necessitados, e descer para aqueles que necessitam de nós. É fazer como Maria: confiar, dóceis a Deus, ainda que sem compreender o que Ele fará. É fazer como José: erguer-se para realizar o que Deus quer, mesmo que não seja segundo os nossos planos. S. José é surpreendente: no Evangelho nunca fala (…), e o Senhor fala-lhe precisamente no silêncio, no sono. Natal é preferir a voz silenciosa de Deus aos tumultos do consumismo. Se soubermos estar em silêncio diante do presépio, o Natal será também para nós uma surpresa, não uma coisa já vista. (…)

 

Infelizmente, no entanto, pode falhar-se a festa, e preferir às novidades do Céu as coisas habituais da Terra. Se o Natal permanece apenas uma bela festa tradicional, onde no centro estamos nós e não Ele, será uma ocasião perdida. Por favor, não mundanizemos o Natal. Não coloquemos de parte o Festejado, como então, quando «veio para entre os seus, e os seus não o acolheram» (João 1, 11).

 

Desde o primeiro Evangelho do Advento, o Senhor alertou-nos, pedindo para que não ficarmos pesados com «dissipações» e «afazeres da vida» (Lucas 21, 34). Nestes dias corre-se, talvez como nunca durante o ano. Mas assim faz-se o oposto daquilo que Jesus quer. Culpamos as muitas coisas que enchem o dia, o mundo que vai depressa. E todavia Jesus não culpou o mundo, pediu-nos para não sermos arrastados, para vigiar em cada momento orando.

 

Então, será Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio; se, como Maria, dissermos «eis-me aqui» a Deus; se, como Jesus, estivermos próximos de quem está só; se, como os pastores, sairmos dos nossos redis para estar com Jesus.

 

Será Natal se encontrarmos a luz na pobre gruta de Belém.

 

Não será Natal se procurarmos os flashes ofuscantes do mundo, se nos enchermos de presentes, almoços e jantares mas não ajudarmos pelo menos um pobre, que se assemelha a Deus, porque no Natal Deus veio pobre.

 

Queridos irmãos e irmãs, desejo-vos um bom Natal, um Natal rico das surpresas de Jesus! Poderão parecer surpresas incómodas, mas são os gostos de Deus. Se os desposarmos, faremos a nós mesmos uma esplêndida surpresa. Cada um de nós tem oculta no coração a capacidade de deixar-se surpreender. Deixemo-nos surpreender por Jesus!

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