5ª meditação da quaresma: «A sede de Jesus»

Vaticano 21 fevereiro 2018  •  Tempo de Leitura: 5

«A sede de Jesus”, sinal da sede existencial do ser humano, esteve no centro da quinta meditação dos exercícios espirituais do papa Francisco e da Cúria Romana, que estão a ser orientados desde domingo, em Ariccia, próximo do Vaticano, pelo P. José Tolentino Mendonça.

 

O poeta e teólogo português referiu-se à sede de Jesus na hora em que foi crucificado, «prova da sua incarnação» e «sinal do realismo da sua morte», e à sede simbólica e espiritual, constituem a «chave vital de acesso» para colher o sentido profundo da sua vida e morte.

 

O evangelista João menciona três vezes a expressão «ter sede», além daquela assinalada no Calvário. Quando Jesus encontra a samaritana, diz-lhe: «Quem bebe desta água terá de novo sede; mas quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede».

 

Depois, no discurso do pão da vida, Jesus declara: «Quem vem a mim não terá fome e quem crê em mim não terá sede, nunca!». Por fim, durante a festa das Tendas, Jesus anuncia: «Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim».

 

A sede da samaritana

«No encontro com a samaritana há uma troca de papéis que não pode passar desapercebido», apontou o pregador: Jesus pede de beber mas é Ele quem dará a beber. A samaritana não entende logo as palavras de Jesus, interpretando-as como referidas a uma sede física. Mas desde o início Jesus jogava com um sentido espiritual.

 

O desejo de Jesus aponta sempre para uma outra sede, como explicou à mulher: «Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz “dá-me de beber”, tu ter-lhe-ias pedido a Ele e Ele te teria dado água viva”».

 

A sede no Calvário

No Calvário Jesus manifesta o seu desejo de beber, mas não é compreendido e em vez de água recebe vinagre; depois de o ter recebido, diz «está cumprido» e, inclinada a cabeça, restitui o espírito.

 

«A sede é assim o selo do cumprimento da sua obra e, ao mesmo tempo, do desejo ardente de fazer dom do Espírito, verdadeira água viva capaz de dessedentar radicalmente a sede do coração humano», observou o vice-reitor da Universidade Católica.

 

Ter sede é crer em Cristo

Ainda na festa das Tendas, explicita-se que ter sede «é crer em Jesus» e que beber é ir a Cristo.

 

«Na verdade, a sede de que Jesus fala é uma sede existencial, que se aplaca fazendo convergir a nossa vida com a sua. Ter sede é ter sede dele. Somos assim chamados a viver de uma centralidade em Cristo: sair de nós próprios e procurar nele essa água que extingue a nossa sede, vencendo a tentação de auto-referencialidade que tanto nos adoece e tiraniza», afirmou o P. Tolentino Mendonça

 

A carência de sentido e o desejo de salvação

A sede de Jesus permite, portanto, «compreender a sede que habita o coração humano e dispor-nos a servi-la», respondendo «à sede de Deus, à carência de sentido e de verdade, ao desejo que subiste em cada ser humano de ser salvo, ainda que seja um desejo oculto ou esteja sepultado sob os detritos existenciais».

 

Romper as cadeias e libertar as energias para dar esperança

Como ensina Madre Teresa de Calcutá, as palavras de Jesus «tenho sede», presentes em todas as capelas das Missionárias da Caridade, por ela fundada, «não dizem respeito apenas ao passado, mas estão vivas hoje».

 

A sede de Jesus «é romper as cadeias que se fecham na culpabilidade e no egoísmo, impedindo-nos de avançar e de crescer na liberdade interior», acentuou o ensaísta e tradutor.

 

«A sua sede é libertar as energias mais profundas ocultas em nós, para que possamos tornar-nos homens e mulheres de compaixão, artesãos da paz como Ele, sem fugir ao sofrimento e aos conflitos do nosso mundo fragmentado, mas tomando o nosso lugar e criando comunidades e espaços de amor, de modo a levar uma esperança a esta terra», declarou.

 

O retiro quaresmal do papa e dos seus colaboradores mais próximos prossegue esta quarta-feira, entrando na segunda metade das 10 meditações que serão apresentadas pelo P. Tolentino Mendonça.

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