Sínodo: as expectativas de Paulo Rocha, Diretor da Agência Ecclesia
Muitas vezes os meus filhos dizem depois do jantar há sempre alguma coisa para fazer, quando não há é meio milagre que acontece lá em casa…Quando não vou para o computador por este motivo ou por aquele. Em todo o caso, mesmo assim nós devemos dar graças a Deus, porque há gente e famílias que estão em situações muito piores, sobretudo por não terem trabalho. E acho que, felizmente vamos conseguindo estar, tanto a minha mulher como os nossos dois filhos, todos os dias a jantar em casa. É raro o dia em que não jantamos juntos ou tomamos o pequeno-almoço juntos. E isso no panorama que nós vemos hoje é muito bom.
Aquilo que vou vivendo agora é que há diferentes etapas, quando eles são pequeninos é uma coisa, agora quando começam a fazer o segundo ciclo é outra coisa… e começam a pensar na universidade é outra coisa. E isto é que é bonito, de facto, como nós nos vamos adaptando a estes tempos da família. Tenho também de agradecer por muitos motivos à minha mulher, mas também neste aspeto de eu, muitas vezes, não ter disponibilidade, por exemplo, para acompanhar os filhos no estudo e ela faz esse trabalho de forma extraordinária. E nós vemos que se não acompanhamos o ritmo é diferente. E, às vezes, a gente pode-se perguntar porque é que há maus resultados, eu acho que aqui está o segredo: quando em casa os pais acompanham, não para ensinar de forma diferente de que os professores ensinam, mas é acompanhar é trabalhar com eles. Porque eu não posso chegar a casa e sentar-me a ver televisão e dizer: olha, vai lá fazer os trabalhos. Não funciona. E felizmente existe esta proximidade e este acompanhamento entre todos que vai tornando as coisas num ambiente bastante agradável.
A grande expectativa que eu tenho em relação ao Sínodo é que todas estas questões sejam tratadas numa relação e não num quadro normativo. Porque creio que é por aí que as coisas, mais ou menos, têm acontecido: é que para determinada situação há uma norma, para aquele contexto há mais duas ou três normas e as coisas decidem-se por essa via. E, felizmente, que já vamos vendo em muitas paróquias e em muitas comunidades que determinadas situações na família vão-se resolvendo pela relação ou com o pároco, ou com quem dinamiza a pastoral familiar. Enfim, na relação de pessoas. E sendo a família, creio eu, um ambiente prioritariamente de relação entre pessoas, creio que essa lógica tem que passar para o relacionamento com a Igreja.
E a grande expectativa que tenho é que se dê esta transformação esta conversão. Que seja pelo imperativo da relação que os assuntos se resolvam, do diálogo, do conhecimento da história de vida, do percurso de vida e não pelo livro que abre no capítulo x ou y acerca daquela situação. E, de facto, não pode ser assim.
Se de facto o Sínodo conseguir trazer ou iniciar este processo de olhar a pastoral familiar, a presença das famílias na Igreja como um espaço de relação entre o que é um corpo doutrinal, um corpo normativo e uma história de vida, de uma pessoa, de uma mulher e de um homem e dos seus filhos, claro que as coisas podem ser diferentes.
Nós dizemos nas notícias: por que gancho é que vou apanhar isto, por onde vou apanhar este acontecimento. Eu acho que depende muito do gancho que ficar na parte final do Sínodo. Eu acho que se ficar destes quinze dias de debate entre os presidentes das conferências episcopais, os peritos e os casais, se ficar aí um caminho aberto de diálogo, isto é, refletimos isto digam-nos o que pensam; se ficar, de facto uma janela ou uma porta bem aberta para o diálogo eu acho que pode ser ótimo para que os assuntos continuem a ser pensados e possamos chegar depois daqui a um ano novamente num processo mais cuidado de redefinição da pastoral familiar e da pastoral da Igreja junto das famílias.
Não acredito, até pelo perfil do Papa Francisco, que com a Missa de encerramento com a beatificação de Paulo VI que seja noutro tom. Eu acho que num tom muito propositivo e de saída e de diálogo que tem marcado este pontificado. Eu acho que teremos esse tom: estivemos estes quinze dias a falar a pensar sobre isto, ainda não temos conclusões, precisamos de saber mais isto e aquilo, queremos muito contar convosco. E era ótimo que assim fosse, porque aquela novidade do inquérito preparatório lançou o sínodo neste patamar e agora creio que terá todas a condições para continuar assim.
[iMissio com Rádio Vaticana]