#RezaraNoite: O Trabalho, por Khalil Gibran

Senhor, hoje muitos de nós terminam o seu período de férias. 
 
Muito obrigado pelo descanso, pelas visitas, pelos amigos, pelas viagens, pelos silêncios, pelas orações.

 

Amanhã arregaçaremos a mangas e voltamos ao trabalho. Fazemos a nossa oração com as palavras do seguinte texto
 
(lê-o de forma compassada. Se não o terminares hoje não faz mal. Terás 11 meses pela frente...)

 

 
A SEGUIR, um lavrador disse:
"Fala-nos do Trabalho."
 
E ele respondeu, dizendo:
"Trabalhais para vos manter no compasso da terra e da alma da terra.
Porque estar ocioso
é ficar estranho às estações,
e afastar-se da procissão da vida,
que majestosa e altivamente submissa,
caminha para o infinito.
 
Quando trabalhais, sois uma flauta
através da qual o murmúrio das horas
se transforma em música.
 
Quem de entre vós gostaria de ser cana
muda e silenciosa,
quando tudo canta em uníssono?
 
Sempre vos disseram que o trabalho
é maldição e a labuta um infortúnio.
 
Mas eu vos digo-vos:
quando trabalhais
cumpris uma parte do sonho mais longínquo
da terra, que vos foi atribuída
quando tal sonho nasceu.
 
Mas se, no excesso da vossa dor,
chamais aflição ao nascimento
e ao peso da carne
maldição escrita na vossa fronte,
então digo-vos
que apenas o suor da vossa fronte
lavará o que lá está escrito.
 
Disseram-vos também
que a vida é obscuridade
e na vossa fadiga repetis
o que dizem os cansados.
 
Ora eu digo-vos que a vida
é, realmente, obscuridade,
menos onde há entusiasmo;
 
e todo o entusiasmo é cego,
menos onde há sabedoria;
 
e todo o saber é vão,
menos onde há trabalho;
 
e todo o trabalho é vazio,
menos onde há amor;
 
e quando trabalhais com amor
unis-vos a vós mesmos
bem como um ao outro e a Deus.
 
E o que é trabalhar com amor?
 
É tecer o pano
com fios tirados do vosso coração,
como se o vosso bem amado
tivesse de usar esse tecido.


É construir uma casa com afeto,
como se vosso bem amado
viesse morar para essa casa.
 
É semear o grão com ternura
e recolher com alegria,
como se vosso bem amado
viesse a comer os frutos.
 
É deixar em quanto fazeis
um sopro do vosso espírito,
sabendo que todos os mortos bem-aventurados
estão junto de vós, vigilantes.
 
Muitas vezes vos ouvi dizer,
como em sonhos:
 
Aquele que trabalha com o mármore
e encontra a forma da sua alma
na pedra,
é mais nobre do o lavrador.
 
E o que pega do arco-íris
e o estende na tela à semelhança do homem,
é mais do que que aquele que faz sandálias
para os pés.
 
mas eu digo-vos, não sonhando,
mas bem acordado e ao meio dia,
que o vento não fala mais docemente
ao carvalho gigante
do que à humilde folhinha de erva.
 
E só é grande
quem transforma a voz do vento
em canto tornado mais doce
pelo próprio amor.
 
O trabalho é amor
tornado visível.
 
E se não puderdes trabalhar com amor,
mas apenas aborrecidos,
mais vale abandonardes o trabalho
e sentados à porta do templo
receberdes esmola
dos que trabalham com alegria.
 
Porque se fizerdes o pão com indiferença,
será um pão amargo
que não matará senão metade da nossa fome.
 
E se esmagardes as uvas de mau humor,
será misturar veneno no vinho.
 
E ainda que canteis como os anjos,
se não amardes o canto,
fachareis os ouvidos do homem
às vozes do dia
e às vozes da noite.



[Khalil Gibran, O profeta. AO]

 

iMissio

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail