Tsunami: uma lição para toda(s) a(s) vida(s)

Uma sobrevivente de um tsunami, o que nos poderá ensinar? O que terá ela a dizer? "Não tenho palavras… não tenho palavras" - repetía a María Belón assim que subiu ao palco do congresso, para falar da sua experiência de sobrevivente do tsunami de 2004. O dia fora abundante em testemunhos densos, substanciais, encharcados de sangue, suor e lágrimas. O que poderia ela acrescentar? Para quê gastar mais palavras a tentar dizer o que não se consegue dizer? Visivelmente tocada pelo que todos ouvíramos antes da sua intervenção, sentara-se na cadeira e, iluminada pelos holofotes e à vista de todos, rodava, contorcia-se, inclinava-se ora para um lado ora para o outro, como que procurando pelo chão algo que nos pudesse dizer. E a luta durou uns instantes. Finalmente, o coração acalmou e abriu espaço a que as palavras começassem a sair mais ordenadas da sua boca. E acabou por nos oferecer uma lição magistral de vida, a partir do que aprendera com aquele dom - como ela gosta de insistir - que foi aquele 'tsunami', a entrar pela sua vida dentro.
 
Sinto-me um privilegiado por ter lá estado e sinto o dever de o partilhar. Aqui fica o vídeo do seu testemunho no Congresso "O que de verdade importa", no Campo Pequeno, em Lisboa [14 Março 2014].
 

 

> ALGUMAS FRASES DA MARÍA BELÓN
  1. “Tive pais muito duros, muito exigentes”; 
  2. “... que me ensinaram através de histórias”;
  3. “A vida traz-nos aquilo de que mais precisamos. Às vezes os presentes vêm embrulhados de uma forma estranha. Mas há que abri-los. Temos de lhe perguntar: o que estás a querer ensinar?”;
  4. “Ninguém me tinha dito que isto era assim”;
  5. “O que de mais importante eu sei sobre a vida, foi-me ensinado por uma onda gigante, foi-me ensinado pelo meu pior pesadelo, foi-me ensinado pelo meu pior medo. Essa onda ensinou-me que o medo é uma simples circunstância e quando a atravessas, são-te devolvidos os maiores presentes”;
  6. “Como chegam os tsunamis? Eles chegam quando e como lhes apetece: vêm numa praia quando tu vais apanhar a tua melhor onda, etc. Acreditamos que controlamos a vida mas o que nos acontece, acontece quando a vida lhe apetece”;
  7. “A probabilidade de que chegue um tsunami à vossa vida é de 100%”;
  8. “Eu, como todos vocês, sou filha de um tsunami”;
  9. “Eu dizia “não aguento mais”; mas não vale a pena discutir com a vida porque ela te responderá: “podes sim, um pouco mais...””; 
  10. “A vida disse-me: “Maria, para cima!”;
  11. Descobri que o inferno era a solidão: descobri que tinha sido tonta tantas vezes: porque a vida já me tinha respondido mil vezes mas eu não tinha querido ouvir; e dizia-me que o sentido da minha vida era amar;
  12. “Os corajosos são aqueles que, mortos de medo, continuam para a frente”;
  13. “A vida em carne-viva é assim...”;
  14. “Eu antes acreditava que o amanhã existia, porque eu decidia que ‘até amanhã’. Era muito soberba. O tsunami ensinou-me que o amanhã não existe: não sei se entrando em casa encontrarei aqueles que amo...”;
  15. “Antes do tsunami pensava que sabia muitas coisas mas não sabia...“;
  16. “Ali aprendi o milagre da solidariedade: a solidariedade é fazer minha a tua vida: sem olhar à cor da pele, à religião, à orientação sexual...”;
  17. “A vida vem, dá-te um golpe e tu gemes e choras; e depois convertes-te em algo melhor; e, finalmente, agradeces a esse fogo que chegou ardendo à tua vida: a resiliência é isso”;
  18. “Quando somos egoístas é porque temos medo”;
  19. “Porquê eu?!” Se não tens resposta para essa pergunta, então deixa de a fazer! Pergunta-te antes “para quê?” Para que queres viver?" [respondeu o filho];
  20. “Cada pessoa terá uns quantos tsunamis na sua vida”;
  21. “Vou ter que aprender a ser muito forte e muito valente porque é preciso ser muito forte e muito valente para estar nos tsunamis" [respondeu o filho];
  22. “Somos todos profundamente imprescindíveis para terminar o puzzle da vida: tentemos não forçar a nossa peça a caber num lugar que não lhe corresponde; parte-se a peça e é um desastre. Que não aconteça viver a vida de outra pessoa e perder a tua”;
  23. “O que é um tsunami? São ondas que chegam à tua vida provocando golpes, feridas, confusão e até asfixia, causadas por fracassos, acidentes, doenças ou perdas que se propagam por todo o teu ser inundando corpo e alma e oferecendo-te a incrível e maravilhosa possibilidade de sentir e viver o que realmente importa”.
 

 

> GRANDE ENTREVISTA - MARÍA BELÓN NA RTP

 

http://www.rtp.pt/play/p1439/e147115/grande-entrevista-2014

 

[Por João Delicado, ©Ver para além de olhar]

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