Dás vida a tudo o que é bom em mim

Querida M.,
 
Sei que tinhas de partir. Não sei bem por que razão, nem para onde foste ao certo. Sei também que não voltas. Escrevo-te sabendo que talvez nunca chegues a ler estas linhas.
 
Liberta-me e aquieta-me saber que aqueles de quem me vou perdendo ficam bem. Quero que saibas que estou bem. Tenho saudades tuas, mas até elas me fazem sentir um privilegiado.
 
Sei que também nunca quiseste deixar buracos no coração de ninguém, mas antes seres o arco que encoraja a seta a seguir em frente sem olhar para trás.
 
Perdoaste-me sempre, mas ajudando-me a descobrir os meus erros, com generosidade e sabedoria. Lançaste-me para o futuro. Nunca me quiseste nos ontens. Abriste-me à esperança. E eu, para sempre, te devo a confiança que depositaste em mim.
 
Tempos houve em que quis ser tudo. Hoje, quero apenas continuar em frente, sabendo que a minha força vem do teu braço, dessa força imensa que me lançou. Ser o que sou é merecer-te. Merecer-te é ser o que sou.
 
Não sei o que haverá depois de mim. Mas sei que depois de ti sou eu...
 
Estou certo de que sou mais pobre sem ti por aqui, porque – e por mais contraditório que possa parecer – deste-me um tesouro que nada nem ninguém me pode tirar. Sou quem sou, porque te deste para que assim fosse. Não para que eu fosse o que nunca conseguiste ser, tão-pouco para que eu chegasse a ser como um outro alguém qualquer... apenas inteiro, forte e capaz de escolher, criar e cumprir o meu caminho.
 
Ensinaste-me a felicidade que existe em fazer o bem a quem não nos pode retribui-lo.
 
Obrigado, mãe.
 
 
[ilustração de Carlos Ribeiro]

José Luís Nunes Martins

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail