Fátima, espiritualidade e desenho
O artista gráfico Mário Linhares foi convidado a ir desenhar e escrever ao Santuário da Cova da Iria. O resultado de três dias de imersão na espiritualidade mariana, 13 desenhos acompanhados de texto, de que apresentamos um excerto, foi publicado na mais recente edição da "Fátima XXI", revista cultural do Santuário
Caminho das promessas - 10 de julho de 2015
Sentei-me a meio do caminho das promessas, aquele que está protegido por pedra polida para que os joelhos dos peregrinos não sofram com a rugosidade do alcatrão, olhei para baixo e perdi-me na imensidão das pequenas texturas, laivos, veios e cores que cada pedra tem. Quantos joelhos não terão já passado por aqui. A pedra polida já ganhou outra dimensão com as milhares de pessoas que se comprometem a fazer este percurso por promessas feitas, na maior parte das vezes, quando já nada mais lhes vale a não ser Deus.
Desenhei pequenas marcas e depois passei a vela das promessas nas duas páginas com alguma força e sem nenhuma lógica particular. Com a aguarela, a cera castanha tornou-se branca e o que antes estava oculto revelou-se com toda a expressividade que me remete para a dor dos peregrinos.
Ficou uma página pouco óbvia, mas carregada de sentido. Durante uma hora passaram por mim várias pessoas de joelhos. Olhavam para o meu caderno e seguiam o seu caminho. A procura paciente pelo rigor dos pormenores da pedra que desenhei a caneta lembram-me o rigor do compromisso do peregrino de Fátima. A cor e a cera da vela mostram-me que a nossa vida tem muito mais nuances do que imaginamos e que, quanto mais cedo a entregarmos a Deus, mais depressa descobrimos a imensidão do que nos espera...
Procissão das velas - 10 e 12 de julho
Faz frio e já chego atrasado ao terço que antecede a procissão das velas. Este terço internacional é como uma viagem espiritual. Eslovaco, Coreano, Polaco, Vietnamita, além do Inglês, Francês, Espanhol e, claro, Português, lembram-me mais uma vez que a fé fala todas as línguas, junta pessoas desconhecidas como família, apenas porque têm o mesmo desejo ardente interior.