"Era necessário que desses a vida, meu amor, era necessário".

Estou aqui, agora, no teu quarto, o teu último quarto. Dormiste aqui uma só noite e agora é o teu quarto. Foi aqui que se abriram as portas, foi aqui que Ele em pessoa veio ao teu encontro. E o quarto onde os vossos olhos apaixonados finalmente se encontraram. Estou aqui neste lugar santo e faço memória de todas as coisas.

 

Passou apenas um ano desde aquela última e única Missa celebrada neste quarto. Comovo-me com tanto amor recebido e dado, sempre juntos, e descubro-me outra vez apaixonado por ti e por Ele. Talvez seja até demasiado fácil para mim continuar apaixonado, saciei-me com abundância. Comi «mel dos rochedos», para usar um termo bíblico. A... melhor carbonara, diria. Foi também aqui que nos disseste, no Evangelho daquela última Missa, «vós sois o sal da terra, a luz do mundo». Era e é o seu mandato: «Ide por todo o Mundo e anunciai o Evangelho».

 

Existe um mundo que te ama de uma maneira extraordinária. Sentem-te próxima no seu sofrimento, pedem a tua intercessão como se já fosses uma santa reconhecida [pela Igreja]. Eu não quero que se precipitem, ainda que não tenha dúvidas que sejas santa. A tua felicidade é o Imprimatur do Senhor. Como quem diz: «Passei por aqui, isto é uma coisa minha».
 
Sabes, meu amor, o nosso amor continua a gerar filhos (o Padre Vito fez-me tomar consciência disto). Temos tantos filhos que já não consigo lembrar-me do nome de todos. Não são filhos segundo a carne, mas são filhos no Senhor. Espero que o Francesco me perdoe porque abri o seu presente, a tua carta para o seu aniversário Também a escrevi um bocadinho e pensa que devia partilhá-la com eles, os filhos mais distantes. Espero não ter feito mal. Pensei que ao fazê-lo não estaria a roubar o teu amor pelo Francy, pois ele é o teu filho segundo a carne.

 

Mas, sabes, existe um mundo que preferiria que nunca tivesses existido, porque não é fácil deixar-se perscrutar por Deus através de ti: nos teus olhos, na tua venda, no teu sorriso, na tua beleza, Ele sempre presente. Por isso é necessário este livro. Sim, um sobre ti, meu amor, porque ainda continuamos a maravilhar-nos! Um livro que não serve para explicar a verdade, porque esta sabe-se explicar muito bem sozinha, nem sequer para te fazer publicidade (como tantos gostariam de ter feito). A verdade plena nunca está presente em quem te quer vender alguma coisa, mas tu, sim, podes falar da verdade porque deste tudo aquilo que podias. A vida.

 

Era necessário que desses a vida, meu amor, era necessário. Para que os cegos possam ver, para que quem tem sede beba, para que os soberbos sejam dispersos nos pensamentos do seu coração e para que o Seu povo saiba que a escravidão terminou e o Rei vem na sua glória.

 

Este livro serve simplesmente para dar testemunho, àqueles que estiverem dispostos a abrir o coração, que Deus é bom e que se pode morrer feliz. Sobretudo serve-me a mim, para não me esquecer. Eu vi, somente pela graça de Deus, aquilo que muitos profetas e reis quiseram ver mas não viram. Seria culpado se me calasse. Tenho de dar testemunho. Eu daqui e tu daí, de onde estás, unidos num amor que é novo para nós, diferente, mas certamente não menos forte.

 

Para escrever este livro pensei no Simone e na Cristiana: quem melhor do que eles, amigos íntimos com quem partilhámos tantos segredos da nossa alma, caminhando juntos na mesma direção, falando a mesma linguagem, testemunhas oculares também eles desta maravilhosa história? Pensei neles e acho que tomei a melhor decisão. Gostaria de o escrever eu mesmo, mas num momento raro de honestidade infinita perguntei-me a mim mesmo: «Mas quando? Ainda nem sequer percebeste em qual gaveta deves pôr as meias e em qual a roupa interior! É melhor que o façam eles». Eles são perfeitos. Partilhei esta ideia com o Padre Vito e ele deu-lhe a sua bênção.

 

Por isso escolhi-os a eles: rezam, têm um coração puro e desejam o bem. Estiveram sempre presentes, desde que os conhecemos em Assis como noivos. Nós no seu casamento e eles no nosso, um mês depois. Estiveram ali, a rezar por nós do outro lado da porta, enquanto nascia a Maria e, depois, no seu «funeral»; estiveram presentes quando nasceu o Davide e também no seu «funeral»; estiveram sempre presentes, no baptizado do Francesco e, por fim, na nossa Páscoa, quando tudo se cumpriu. Quem melhor do que eles para escrever este livro?

 

Simone, que fez os estudos na área da edição, tinha todas as qualidades para escrever da melhor forma a tua história; Cristiana, a amiga com quem, mais que todos, partilhaste mais a tua fé. Ela conhece alguns segredos do teu coração... Conversas entre mulheres de inteligência superior. Quanta beleza, quanta Providência.

 

E eles conseguiram. Foi um trabalho difícil para eles, rezavam juntos todas as manhãs, antes de começarem a trabalhar, escutaram horas e horas de testemunhos recolhidos de entre os amigos mais próximos. Transcreveram e compilaram tudo com muito cuidado e conseguiram escrever, não um livro romântico, mas um primeiro livro que fala de ti, de nós e sobretudo de Deus, de como Ele ama. E apenas um primeiro livro, sei que se escreverão muitos outros, em muitas línguas.

 

Disseste-me frases tão fortes como inteiros volumes de teologia. Não sei se tinhas consciência disso quando as dizias... Eu acho mesmo que sim.

 

Com toda a diligência, eu escrevia-as para não me esquecer.
 
Sim, para não me esquecer.
 
Enrico Petrillo

 

Ps:
«Chiara Corbella Petrillo morreu com 28 anos, em Junho de 2012, vítima de cancro, por ter posto a vida da criança que trazia no ventre à frente da sua. Antes do nascimento deste filho, Francesco, em Maio de 2011, já Chiara e o seu marido Enrico tinham acompanhado no seu nascimento para o Céu os seus dois primeiros filhos, Maria Grazia Letizia, nascida em 2009, e Davide Giovanni, em 2010.»

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