A geração do telemóvel
Não falo da geração que passa o tempo a tocar nas teclas do telemóvel, ou a ver as horas, ou a mandar uns toques. Essa geração que é ainda nova e que vai ter doenças nos dedos de tanto mexer e remexer nessa invenção que foi o telemóvel. Falo antes da geração que tem mais idade e que também faz do telemóvel o uso diário que está no bolso das calças ou na carteira e que toca a qualquer hora. São aqueles que só sabem usar o telemóvel para ligar uns determinados números previamente marcados em teclas especiais, e que sabem atender cada vez que toca aquele som que, digamos, já o ouvimos um centenar de vezes e não conseguimos gostar. A geração que ainda é nova sabe usar o botão que diz silêncio e raramente ouvimos um telemóvel desta geração tocar durante a Eucaristia. A geração mais velha, como não sabe sequer que tem a possibilidade de deixar o telemóvel funcionar em silêncio, passa a vida a atender telefonemas em qualquer lado. Ou se não atende, deixa tocar indefinidamente até ele próprio se calar. É comum uma vez que outra um telemóvel destes tocar durante a missa e do meio da multidão ver-se alguém incomodado e tentar passar a bola para canto. E olhem que isto está a ser cada vez mais comum. Por isso não apontem sem dó o dedo aos mais novos, porque os mais velhos já aprenderam a ser geração do telemóvel sem aprender todas as suas funcionalidades. Que façam como eu, que nunca levo o telemóvel para a Igreja. Mas não. O telemóvel, que antigamente não existia, agora tem de ir connosco para todo o lado. Bom, e depois desta tão grande introdução, deixem-me contar o que esta tarde aconteceu apenas em duas Igrejas, em duas missas. Na primeira, um destes telemóveis tocou e a senhora salta do banco a meio da homilia, corre desenfreada para a porta e enquanto chega lá e não, já se ouve Tá lá, sim, tá. Na segunda Igreja, depois de um ou dois telemóveis se ouvirem esquecidos, há um outro que toca da carteira de uma outra senhora. Esta levanta-se com o telemóvel a tocar na mão, estávamos numa leitura, sai com passo calmo e sereno, como se nada estivesse a acontecer, e do lado de lá da porta da Igreja faz o seu diálogo que só não se ouviu distintamente, porque a leitora também estava a usar da palavra. Nisto veio o Aleluia, estávamos a preparar-nos para o Evangelho, e toca um terceiro telemóvel, pois não há duas sem três, e o seu dono não esteve com meias medidas, atende logo ali, meio acocorado, e diz Liga mais tarde que agora estou na missa. Ora, pois nós também estávamos na missa. Eu só acho é que qualquer dia quem sai da missa é Deus.