V Domingo Quaresma: “Eu sou a ressurreição e a vida”!
Cada vez mais próximo da meta – do caminho que nos leva à Páscoa do Senhor – a passagem da morte à vida, a preparação intensifica-se. O Evangelho deste V domingo da quaresma, com a narração da ressurreição de Lázaro, abre-nos a porta para o autor da vida, uma vida plena, vida infundida pelo espírito do Senhor “Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis” (Ez 37, 13-14a). Assim, concluímos que a palavra central da liturgia deste V domingo da quaresma é VIDA – vida que nos vem do próprio Deus.
Antes de mergulharmos no evangelho deste domingo, há que ressalvar as diferenças entre a ressurreição de Jesus e a ressurreição de Lázaro. Falar da ressurreição de Jesus não é o mesmo que falar de reanimação de um cadáver que volta à vida mortal anterior, como aconteceu com Lázaro (Jo 11, 1-44), com a filha de Jairo (Mc 5, 21-41) ou com o filho da viúva de Naim (Lc 7, 11-17). O corpo glorioso de Jesus ressuscitado não obedece aos nossos critérios de corporeidade, de tempo, espaço e lugar. Jesus entrou definitivamente na Vida de Deus, onde a morte já não tinha nenhum poder sobre Ele. “Estive morto; mas, como vês, estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e do Abismo” (Ap 1, 18). A ressurreição de Lázaro é um voltar à vida anterior, desperta de novo para a vida; a ressurreição de Jesus é assumir a vida plena que atravessa toda a história humana. “O Espírito de Deus tomou posse do cadáver de Jesus, morto por amor, devolveu-o à plenitude da vida, cheio de toda a força de Deus” (Carlo Maria Martini – Tomados de Assombro, Paulinas Editora).
Segundo Carlo Maria Martini “Este relato consta de uma introdução, seguida de três momentos de diálogo: o primeiro entre os discípulos e Jesus; o segundo entre Jesus e as irmãs de Lázaro, Marta e Maria; o terceiro entre jesus e os judeus. Segue-se, depois, o relato do milagre e as reações dos sumos-sacerdotes e dos fariseus. Uma estrutura, dividida em seis partes, dá particular importância à quarta parte, ou seja, ao diálogo entre Jesus e as irmãs de Lázaro: aqui, no versículo 25, é proclamado, com efeito, o poder de Jesus sobre a vida – “Eu sou a ressurreição e a vida” – e a teologia desta longa passagem chega ao seu cume”.
Vendo que o seu irmão Lázaro estava doente, as irmãs Maria e Marta, mandaram chamar Jesus. Porém, Jesus exclama “Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que seja glorificado o Filho do Homem” (Jo 11, 4). Quatro dias depois da morte de Lázaro, Jesus chega a Betânia. João apresenta-nos uma família composta apenas por irmãos e irmãs – “representam a comunidade cristã onde não são admitidos nem superiores nem inferiores, mas somente irmãos e irmãs” (Fernando Armellini – O Banquete da Palavra, Paulinas Editora).
“Senhor, se Tu cá estivesses, o meu irmão não teria morrido”. Marta censura Jesus, vai direita ao coração do seu amigo. E Jesus vai direito ao coração das coisas: «O teu irmão ressuscitará». Ora, Marta acreditava na ressurreição do último dia. Marta fala do futuro, Jesus fala no presente “EU SOU A RESSURREIÇÂO E A VIDA” (cf. Ermes Ronchi – A Esperança que nasce da Palavra, Paulinas Editora).
Aproximando-se do túmulo de Lázaro, Jesus comoveu-se e chorou. “Deus chora, e chora por mim: Lázaro sou eu, eu sou o amigo doente e amado, que Jesus não aceita que lhe seja arrebatado pela morte” (Ermes Ronchi). “O cristão não pode dizer-se tal se não acreditar que a morte é um nascimento, porém não é insensível e não deve deixar de chorar quando um amigo o deixa. Sabe que não morreu, fica feliz porque ele vive com Deus, mas está triste porque, por algum tempo, terá que ficar separado dele” (Fernando Armellini).
Em oração, Jesus pede ao Pai que o escute e a resposta de Deus ao brado de Jesus “Lázaro sai”, não tarda a acontecer. O amor torna-se mais forte do que a morte. O amor de Deus por cada uma das suas ovelhas, não permite que nenhuma seja arrebatada (cf. Jo 10, 27-28).
“Sai para fora, desligai-o e deixai-o ir”: três palavras que são para mim: sai, liberta-te das ligaduras e vai. Quantas vezes estou morto, acabado o óleo da minha lâmpada, terminada a vontade de me empenhar e de amar, chegada ao fim a vontade de viver, e em determinada gruta obscura da alma uma voz dizia: já nada me interessa, nem Deus, nem os outros, não há nada que valha a pena” (Ermes Ronchi). Sai e destrói os muros das inimizades que foste criando e somando nas tuas relações do dia-a-dia; sai e derruba a pedra do túmulo que te impede de viver à luz do rosto de Deus; sai…
[Imagem: Jean Baptiste Jouvenet - Museu do Louvre , Paris, França]