Luz para se revelar às nações: 40 dias depois do Natal

"Sião, adorna tua câmara nupcial e recebe o Cristo Rei. Acolhe com amor a Maria, Porta do Céu, pois ela tem em seus braços o Rei da glória, luz nova que resplandece. A Virgem avança, apresentando a seu Filho, engendrado antes da Aurora. Simeão O recebe em seus braços e anuncia ao povo que é o Senhor da vida e da morte, o Salvador do Mundo". (Canto de Procissão da Candelária).

 

Hoje, dia 2 de fevereiro, quarenta dias após o nascimento de Jesus, Maria e José apresentam o menino no Templo, a fim de cumprir os preceitos da Lei de Moisés e apresentar ao Senhor o primogénito (Ex 13, 11-13).

Para o Templo, Maria e José levam, como oferta sacrificial, um par de pombas (era o sacrifício oferecido pelas famílias pobres, em lugar de um cordeiro).

Chegados ao Templo de Jerusalém, são acolhidos pelo velho Simeão e pela profetisa Ana. Estas duas personagens personificam o resto de Israel, os pobres de Javé (anawim) dos que viviam com total confiança e esperança no seu Senhor. Eles aguardavam a vinda do Messias, por isso Simeão cantou com emoção “Os meus olhos já viram a Tua salvação”. Esperavam com paciência o tempo de Deus, ou melhor, a irrupção do divino no Tempo e na História das gentes.

Simeão, “homem justo e temente a Deus”, cheio do Espírito Santo proclama um dos hinos mais belos do Novo Testamento “Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo”. “Um ancião e uma criança estão frente a frente, o Antigo e o Novo Testamento, o tempo da espera e o cumprimento definitivo” (Enzo Bianchi – Jesús, “Dios con nosostros” que cumple da Escritura, Ediciones Sigueme).

Ana, uma profetisa, que “não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações” (Lc 2, 37). “Esta mulher crente, que se preparou durante um longo tempo com todas as suas forças para o encontro decisivo com a salvação de Deus, graças à inteligência que lhe vem da fé, intui que chegou finalmente a hora esperada” (Enzo Bianchi – Jesús, “Dios con nosostros”). Ana louva o Senhor que não deixa de cumprir as suas promessas e que manifesta o Seu amor e proximidade na fragilidade de uma criança. 

Só no século VI a Igreja de Roma adotou esta festa. A festa passou a ser chamada de Candelária pelo povo mais simples em que o único rito exterior era uma procissão de velas. Afirmou-se muitas vezes que esta procissão teria sido instituída pela Igreja de Roma para substituir um ritual pagão particularmente popular, as lupercais. Em honra de Februa, mãe de Marte, deus da guerra, os Romanos iluminavam a cidade de cinco em cinco anos, com velas e archotes, durante uma noite, para que Marte lhes concedesse a vitória sobre os seus inimigos. Também contam as fábulas dos poetas que Proserpina era tão bela que Plutão, deus dos Infernos, apaixonou-se por ela e levou-a para o interior da terra. Seus pais procuraram-na nas florestas e bosques com tochas e archotes e todos os anos as mulheres de Roma cumpriam esse ritual fazendo memória desta lenda. Como os cristãos recentemente convertidos á fé cristã não se conseguiam decidir, o Papa Sérgio ordenou que os cristãos em todo o universo celebrassem uma vez por ano a santa Mãe do Senhor, com velas acesas e candeias benzidas. Julga-se que será a festa mariana mais antiga do Ocidente cristão (in "As Festas de Deus" de Guy Deleury Instituto Piaget).

Os nossos irmãos Ortodoxos denominam esta festa como a “Festa do santo Encontro” do Senhor. “A celebração desta memória litúrgica leva-nos a compreender que para encontrar verdadeiramente o Senhor Jesus e reconhecê-lo como Salvador de toda a humanidade, são necessárias a pobreza de espírito e a espera perseverante que estes dois anciãos, cheios de fé, testemunharam” (Enzo Bianchi). É este o desafio do Evangelho escutado e assimilado hoje. A Palavra só faz sentido se fizer sentido em cada um de nós e fazer com que cada um sinta e pulse o seu coração com o sentir e pulsar do coração de Deus. Como Simeão e Ana, saibamos acolher no mais íntimo a Palavra que se faz carne, alimento e alento – o resto… vai amadurecendo e crescendo sem que nos demos conta. 

Por Nuno Monteiro

Nuno Monteiro

Redator Liturgia.

Professor de EMRC. Adora viajar! Caminhante de Santiago de Compostela e Terra Santa.

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