Quem és tu? Que dizes de ti mesmo?
Eis que surge um enviado de Deus – João. Ele veio dar testemunho da luz e assim conduzir todos os filhos de Israel em direção à verdadeira luz – o Messias, o Ungido, o Escolhido de Deus. “Quem O segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (cf. Jo 8, 12).“João é testemunha, não da fragilidade do homem, mas da capacidade de cada um acumular dentro de si a luz e, depois, de a libertar gota a gota. A mim, crente, é confiada a missão de ser testemunha, não da degradação, da destruição, do pecado, que também morde as nossas vidas, mas de esperança e de futuro, testemunha de um Deus enamorado e presente no meio de nós, anunciador de um sol possível, de um Deus que cura as vidas, que fará germinar uma primavera de justiça, uma primavera que julgamos impossível” (Ermes Ronchi – A Esperança que nasce da Palavra).
Só os valores apresentados por Jesus Cristo podem dar sentido à nossa vida. Talvez não tenham a cor e o sabor sedutor das outras luzes fortes que ofuscam os nossos sentidos, porém, é a única capaz de dar vida, tal como a luz da aurora da Páscoa da Ressurreição ou a luz que rasgou os céus e acampou/encarnou no seio da humanidade.
Perante a insistência da pergunta “Quem és tu?” Serás o Cristo, o Messias escolhido? Elias ou algum profeta escatológico? João responde por três vezes “não, não sou”. João foge do palco das atenções e nega a centralidade da sua figura para indicar um outro mais forte e mais importante. “Que dizes de ti mesmo?” Apresenta-se apenas como uma voz, uma voz que clama no deserto para preparar o caminho do Senhor. Prepara o caminho para Aquele que é maior do que ele, que já está entre eles mas que ainda não é reconhecido. Sem uma mensagem sua, João renova as profecias antigas e antecipa os ensinamentos do Enviado de Deus.
Estas perguntas com que assaltaram João Batista, em algum momento da nossa vida fizeram ou fazem eco em nós. É importante interrogarmo-nos de vez em quando sobre estas coisas. João Batista ensina-nos a aceitar sem dificuldade e humildemente, o nosso papel e lugar na história da humanidade – Quem sou eu? Que digo de mim mesmo? Qual tem sido o meu lugar na história do “meu mundo”?
O profeta da humidade. Quão atual é esta figura para todos os evangelizadores. Um profeta que não centra a mensagem na sua própria pessoa nem chama a atenção para si próprio, mas deve conduzir a Cristo, única meta do viver crente. “Numa época de narcisismo religioso, num tempo em que abundam os que se apresentam a si mesmos para dar testemunho, e que em virtude dos carismas recebidos ostentam, sem pudor, a sua própria pessoa aos olhos do mundo, João Batista é uma memória que interroga e julga sem descanso” (Enzo Bianchi).
“A última afirmação do precursor: «Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias» é vulgarmente entendida como uma declaração de humildade. Trata-se, no entanto, de uma imagem, para nós enigmática mas clara para os interlocutores do Batista, que conheciam a Lei e as tradições. Tirar a sandália era um gesto contemplado pela legislação matrimonial de Israel: significava apropriar-se do direito de tomar como esposa uma mulher destinada a outro (Dt 25, 5-10; Rt 4,7). Declarando não poder desatar a correia das sandálias, o Batista afirma não ter nenhum direito de subtrair a esposa a Cristo. É Ele o Messias, é Ele o Deus connosco que veio para celebrar as núpcias com a Humanidade. O Advento é tempo no qual a esposa (a Humanidade, a Igreja) se prepara para acolher o esposo, e o Batista é o amigo do esposo, encarregado de favorecer este encontro de amor (Fernando Armellini – O Banquete da Palavra).
“Deus, nosso Pai, vinde, encher-nos da vossa Alegria, para a testemunharmos junto dos nossos irmãos” (Uma casa para a alegria do Evangelho – Diocese do Porto).