DOMINGO II DE PÁSCOA Ano B: «Meu Senhor e meu Deus!»
Com medo dos judeus e dos soldados, os discípulos de Jesus continuavam fechados em casa. Era o primeiro dia da semana quando, de portas e janelas fechadas Jesus colocou-se no meio deles. Adivinhando algum medo e confusão nas cabeças dos discípulos Jesus deixa-lhes a Paz do Ressuscitado. Depois mostra as mãos, os pés e o lado – os sinais visíveis do seu Amor gratuito, o Seu bilhete de identidade. Só depois caíram as resistências e houve lugar para a alegria, pois era o Senhor que estava diante dos seus olhos. Diz o Papa Francisco “Esta é uma doença dos cristãos. Temos medo da alegria (…) Ficam mais à vontade nas sombras da tristeza do que na luz da alegria, como aqueles animais que só conseguem sair de noite (…) Jesus, pela sua ressurreição, dá-nos a alegria: a alegria de sermos cristãos; a alegria de segui-lo de perto; a alegria de andar pelo caminho das bem-aventuranças, a alegria de estar com Ele”.
Mesmo de portas e janelas fechadas, Jesus surge no meio deles. “O Ressuscitado possui uma vida que escapa aos nossos sentidos, uma vida que não pode ser tocada com as mãos nem vista com os olhos. Só pode ser alcançada mediante a fé. Isto é válido também para os Apóstolos que, no entanto, fizeram uma experiência única do Ressuscitado” (Fernando Armellini – O Banquete da Palavra, Paulinas Editora).
Porém, Tomé, o Dídimo (gémeo) não estava entre eles quando Jesus se fez presente. Perante o relato que escutou dos seus companheiros, Tomé ficou incrédulo. Nada fazia sentido. “Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei”.
A fé de Tomé questiona, duvida, interroga e procura razões para a sua fé. Uma fé absoluta, intocável e garantida será mais forte, verdadeira e segura do que uma fé que se questiona? Escreveu o Papa S. Gregório Magno “A incredulidade de Tomé é mais útil à nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditam”.
Oito dias depois, Jesus faz-se presente de novo no meio dos discípulos e Tomé estava com eles. As portas estavam de novo fechadas. As portas do nosso medo e das nossas muitas certezas distanciam-nos do encontro que Jesus quer ter comigo mesmo. Mas Jesus vem e mostra as suas feridas “ «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente» ”. Eis o sinal do nosso Deus – Um Deus que está ali, e que nas suas feridas carrega as feridas da humanidade e no coração aberto acolhe, na sua misericórdia todos os feridos que a sociedade e a própria Igreja ferem. “A mensagem da misericórdia divina significa que Deus toma a seu cargo a nossa pobreza original e fundamental, que permanece perto de nós nesta nossa indigência e que é, portanto, um Deus dos homens, um amigo dos seres humanos” (Walter Kasper – A misericórdia, Lucerna).
Sabendo-se amado, mesmo na sua incredulidade, Tomé deixa cair as suas defesas e formula uma extraordinária confissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”.
Na comunidade reunida, no primeiro dia da semana, Tomé faz a experiência do Ressuscitado. Em comunidade, reunidos semanalmente na Eucaristia, podemos fazer a experiência do Ressuscitado que nos explica o sentido das Escrituras e nos alimenta com o Seu Corpo e Sangue.
“Tomé representa-nos a todos e ao mesmo tempo indica-nos um itinerário para chegar à fé no Ressuscitado que nos quer falar repetidamente ao nosso coração «Não sejas incrédulo, mas crente»” (Enzo Bianchi – Jesus, Dios com nosotros, Ediciones Sigueme).
“O amor escreveu o seu relato no corpo de Jesus com o alfabeto das feridas. Indeléveis, a partir de agora, precisamente como o amor. Mas das chagas abertas de Cristo já não brota sangue, mas luz e misericórdia. Este é o Evangelho do Domingo da Divina Misericórdia, a Festa desejada por João Paulo II” (Ermes Ronchi).
Redator Liturgia.
Professor de EMRC. Adora viajar! Caminhante de Santiago de Compostela e Terra Santa.