Vou Partir em Missão!

Vou partir em Missão! Vou? Não! Vamos. Se tudo correr como planeado, em Agosto vamos estar em missão num país africano. Somos 15, onde a faixa etária vai dos trinta e poucos aos oitenta e tantos. Um grupo de gente crescida, com muita experiência de vida. O que nos une: Jesus Cristo! O que nos caracteriza: todos fazemos voluntariado em Portugal.

 

Ao longo dos próximos meses, numa ou noutra crónica, irei partilhar convosco aspetos da escolha do destino, da preparação e da vivência desta missão de voluntariado em Angola, mais concretamente, na província do Huíla. Hoje quero apenas tentar explanar as razões pelas quais quero partir, quero ir.

 

Numa primeira sessão de formação, no passado mês de Dezembro, foi-me apresentado um poema de Sebastião da Gama, que expressa muito do que sinto:

 

«Pelo sonho é que vamos,

comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,

ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?

– Partimos. Vamos. Somos.»
 
Quero partir, porque sim! Porque quero estar. Porque já estive em África e tenho saudades. Quero viver este nervoso miudinho, que uma ou outra noite, me tira o sono. Será que sou capaz? Capaz de estar. Simplesmente, estar... Sim, porque esta ideia de ir ajudar, de ir dar, tem muito que se lhe diga. Tenho recebido muito mais! Nos sorrisos, nos olhares, nos lábios...

 

Quero partir, sair... Sei que quanto mais me abandono, mais me encontro. Quanto mais deixo as seguranças do meu dia a dia, a minha zona de conforto, mais me vejo no essencial da vida. Que sou eu, que é o outro, que sou eu mais o outro. E não o eu e as minhas coisas, as minhas constantes preocupações, tantas vezes, fúteis...

 

Quero partir, para saber do meu ser peregrino nesta terra. Este ser de passagem. Neste nosso mundo, nada é eterno além do amor de Deus que já é aqui presente. Tudo o resto é passageiro. E eu esqueço-me tanto desta realidade...

 

Quero ir, porque gosto de sentir a dúvida, a insegurança, a incerteza. Quando me amarro às minhas certezas e às minhas razões, fico a perder muito do que sou ou posso vir a ser. Deixo de ouvir e aprender com o outro. Gosto de sentir aquele medo que me leva a questionar: "Porque é que te meteste nisto? Nunca mais aprendes!"

 

Quero ir, porque sou cristão. O Papa Francisco, afirmou este domingo: «Ser cristão e ser missionário é a mesma coisa. Anunciar o Evangelho, com a palavra e, antes de tudo, com a vida, é a finalidade da comunidade cristã e de cada um dos seus membros.» Francisco que uma Igreja "em saída", onde os cristãos tomam a iniciativa, "primeireiam", envolvem-se, acompanham a evangelização. (cf. E.G. nº 24) Nesta encíclica há uma frase que sempre me inquietou, que sempre me questionou:  «Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a língua e toda a estrutura eclesial se converta num caminho adequado para a evangelização do mundo atual mais que para a auto preservação» (nº 27). E é lá, porque diferente de cá, que me confronto com formas de pensar diferentes das minhas, de maneiras de viver a mesma fé com outro entusiasmo...

 

Quero partir, porque sei que lá, não vou mudar o mundo sozinho, mas vou mudar um poucochinho o meu e, com um pouco de sorte, um poucochinho dos outros, tal como cá...

 

E quero partir, não só por mim, mas com os outros catorze. E todos, não queremos partir só por nós, mas também, por vós. Quero, queremos sentir-nos enviados por vós. Queremos levar-vos até eles, e assim trazê-los também eles até vós... De cristãos para cristãos e Todos a mesma Igreja. Por isso, peço-vos que rezem por mim, por nós...
 
Uma Santa Semana.
 
[Foto: Mundo e Missão]

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail