Três anos de Pontificado no domingo da mulher adúltera

Não podia haver melhor coincidência para celebrar o terceiro aniversário do pontificado de Francisco do que o evangelho do Domingo V da Quaresma, "A Mulher Adúltera". O Papa Francisco tem-se preocupado em afirmar a misericórdia do nosso Deus, tal como Jesus com aquela pobre mulher. Direi que são três anos avassaladores, que estão a mudar a rosto da Igreja com pequenos gestos.
 
Tal como os escrivas e fariseus, temos a tendência em identificar os bons e os maus e com isso, não tomamos consciência que procuramos "tentar" Deus, no seu projeto de felicidade para o ser humano. Sim! Porque, apenas os identificamos, procuramos "condená-los" de imediato.
 
São tantas as vezes em que obscurecemos a imagem de Deus. Anunciamos um Deus que é justo e está pronto a punir ou castigar. São tantas as vezes que dividimos a Igreja entre justos e pecadores, desvalorizando a revelação bíblica de que Deus é amor e misericórdia sem limites. Reconhecermo-nos pecadores é renunciar a certas formas de farisaísmo que nos tranquilizam a consciência quando "absolvemos" os gestos com aparência religiosa; é transformar a ideia de perfeição e santidade, muitas vezes desumana, apenas fruto do esforço pessoal, em acolhimento de um Amor que transforma por dentro o coração e a mente, conduzindo-nos à entrega da própria existência a Deus.
 
Francisco tem pedido que a Igreja seja um hospital de campanha, onde a misericórdia de Deus seja vista como aquela que nunca exclui, mas que inclui sempre, as situações limite, o pecado e a fragilidade. Se o nome de Deus é misericórdia, significa que Ele não está algures nas nuvens, mas sim nos pobres, na vida real do ser humano, na expetativa de que nos voltemos para Ele.
 
D. António Couto, ao comentar o evangelho da mulher adúltera, faz referência a uma famosa frase de Santo Agostinho: «Relicti sunt duo, misera et misericordia» - Ficaram dois em cena: a miserável e a misericórdia. O Papa quer que os cristãos se coloquem perante Deus como a mulher perante Jesus. Se não nos sentimos assim perante Ele, não precisamos de Jesus. Não precisamos da sua redenção. Se não nos descobrimos todos como pecadores, justificando-nos com outras causas como: os outros, a sociedade, já temos a "nossa salvação"... Só quem se reconhece nesta mulher, é que percebe que as palavras de Jesus são para si: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.»


Uma boa semana.


[FOTO: © Ivan Letokhin]

 

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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